segunda-feira, 20 de maio de 2013

Todo Dia

Não era dia nem noite, tudo se passou no limbo que eufemizam como crepúsculo. Duda alcançara tão alto cume depressivo que nem a morte a animava. Era o quinto final de dia siamês, uma sexta feira que de quinta, quarta, terça e segunda só diferenciava-se em nome, mas era sexta. Todos os dias eram o mesmo, só que separados por pesadelos. O mesmo vil despertador, o mesmo café hipócrita, a escovação de dentes desanimada e despreocupada - a gangorra gengival que mostrava a iminência de banguelice tornara-se uma leve diversão. Mas era sexta. O céu cinza com migalhas de luz propiciava velados sorrisos de ironia - com eles fazia analogia com a merda de vida que levava, fedida, mas com borrifadas camuflantes de perfume. Só lhe restava aguardar o fim do alienante fim-de-semana que tentava ocultar a vida medíocre que lhe pertencia e de cuja não mais tinha vigor para sequer pensar em dar cabo. Dormiu, mas no subconsciente sabia que ainda era pela quinta vez o mesmo dia.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Amor: substantivo masculino

Seco, cego, tosco. Banal e único - amor... Sempre vem e vai sem do lugar sair, tetraplegia hiperativa que consome e alimenta. Dizê-lo paradoxo? - clichê antiquado e verossímil, tolo e essencial como tudo que o cerca. Caminhos contrários de um mesmo círculo, rótulos otários para um mesmo vinho. Escrever sobre algo tão irrelevante promove recursos inesgotáveis.