sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Borra de Café

Sedimento, decepções involucram  a alma, cicatrizam simétrica e sutilmente. O perdão cristão é poético, mas não legítimo, não a quem de fato se ama e espera. Com franqueza dirias que olhas para teu algoz perdoado com a mesma confiança e meiguice? Sem reservas inconscientes, sem revestir de aço o afeto.
O perdão prático é sinonimizável à indiferença - o amor potencializa mágoas. 
Como papel amassado, o que sentimos pode até "reflorescer"; mas jamais à mesma forma.   

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Hercúleo

Os olhares traem, denunciam inútil porfia: empenhos em, inocuamente, tentar velar o que até um breve cheiro - intimamente até o mau, entrega em brilhos nada refratários, submissos, pueris. Ou mesmo o papel em manchas rubras, entregando que a soma perigosa de duas vidas ainda está dividida.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Senha

 Dos beijos frugais almejo os ácidos
 Dos pares normais invejo os ócios
 Contradigo o afeto em termos plácidos
 Priorizo o amor vislumbrando os próximos.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Aforismo

"Mas é sempre bom saber que apesar do conhecimento e da experiência ainda somos capazes de decepção".

domingo, 15 de setembro de 2013

Feixe de Luz

Amor velado, escuridão diáfana
Pertenças esmagadoras, pobre discrição.
Depreender desaprendendo
Apanha, bate, vermelho, tinge... 
Cor, ação.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Bem-(te)-Vi

Daqui de cima é tudo tão complicado. Gente que de longe chora a saudade, e de perto briga a presença.
Quando o Sol brilha queixam-se de um infernal calor; quando frio, de saudade do verão.
Vejo, também, gente que espera outras gentes morrer para amá-las. E as que vão arrastando-se ao trabalho e quando o perdem se colam à cama de depressão e desejo de tê-lo de volta? Vejo gente barbuda dizendo que é feliz sendo sozinha, porém se fazendo em mil para arrumar uma gente de saia que lhe faça companhia para sempre; o inverso também vejo.
E tem gente que faz de tudo para ter dinheiro e não compra nada, apenas gastam com remédios e médicos quando já não têm mais disposição para aproveitar tudo o que juntaram.
Vejo tanta gente confusa que só canto em três notas.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Hojes

Em minha compleição sou fragmentos
"Eus" antagônicos numa carcaça agregadora
Capaz de manter dois seres, ou três...
Adaptação conjuntural é antídoto

O esteta não sobreviveria na selva de cadeados
Nem a fera em devaneios etéreos
É de mim(s) que meu mundo precisa
E de alimento e dor (arte?) erijo-me

Expiação ininterrupta, lívida (representação de fluxo?)
Abulia frenética, interessada (e blasé)
Paradoxos são nascer e morrer
Estados e eventos definem minha sorte

quarta-feira, 24 de julho de 2013

(Meu) Filho: Passado, Presente e Futuro.

Pequenez efêmera e alvissareira, olhos perdidos que me nortearam, anos que só passaram ao seu redor, e assaz rápido.
Alimento que fortalece a alma para o digladiar ininterrupto que chamam de "vida cotidiana" - prática.
Nuvens ofuscantes que só me fazem preocupar e, de alguma maneira velada, rezar.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Mais

Acredito piamente que nada seja mais moral do que agir de acordo com a própria idiossincrasia; trata-se de uma filosofia pessoal, nada política. Pessoas inteligentes correm dos arautos da "verdade", da política, da fé e do consumo (somos escravos do que nos vendem, não o contrário) - mas essas pessoas andam cada vez mais em silêncio (sábia postura que ainda alcançarei, os porcos já rejeitam as pérolas há tempos; e quebrar vidraças, aparentemente, dá mais, infelizmente, resultado do que tentar intelectualizar analfabetos funcionais e/ou zumbis sociais). Num mundo tão avatarizado fica assaz difícil agir de acordo com nossa própria essência porque ninguém, muito menos nós próprios, sabe quem somos; e a preocupação com o autoconhecimento é cada vez menor em relação à falsa autoimagem que nos empenhamos em aventar. Frases como "não estou nem aí" só demonstram o quanto de preocupação há com a imagem que outrem faz de nós. A felicidade plena que ostentam com fotos triviais, soam-me como mentirosas; a felicidade solitária cabal (há dores e delícias em ser só, em ter como enamorada a solidão - mas até Nietzsche a trocaria por verdadeira companhia) é o retrato colorido da falta de opção. Insatisfação faz parte de qualquer existência sã (creio que até os extremamente loucos são insatisfeitos), comportamento pueril tentar mostrar-se superior ao mais genuíno dos sentimentos humanos. Sou darwinista, mas prefiro acreditar que o encaixe perfeito de nossos órgãos sexuais é muito mais do que uma das ferramentas para a reprodução. Estão aí os homossexuais, de sexo complicado e amor legítimo, para corroborar o nosso lado não-bicho. Em tempo: escrevo este ensaio em plena segunda-feira de manhã por estar acamado. Boa semana a todos.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

X - ?

Sou canibal. Não, queridos leitores, não aprecio carne humana - considero apenas que, como eu, um animal com o neocórtex desenvolvido que come outro vive a antropofagia. Já há algum tempo que envergonho-me de comer e, apesar da culpa, adorar fatias de membros amputados de cadáveres que só o são para saciar minha fome (fome?). Um batalhão de hipócritas dirá que é a natureza e aquele blá-blá-blá de sempre; nunca vi um frigorifico em meio à alguma savana africana ou uma churrascaria rodízio no pantanal - e na primeira série do ensino-fundamental aprendemos que a capacidade de raciocinar nos diferencia das bestas que se caçam para não morrer de fome. Há os demagogos fundamentados, como eu, que dizem (e com sinceridade) que só consomem carne por ela já estar exposta nos açougues, ou seja: não há mais o que se fazer. E de fato essas pessoas (friso que sou uma delas) não matariam um bicho para defumá-lo e por fim defecá-lo - mas ainda assim acho uma postura estranhamente mitigadora: não comer animais, mesmo com toda a inocuidade que o fato de eu ser uma só boca explicita, seria mais honroso. Há, também, os demagogos em si (Churrascaria Kant?), como o cantor (sic) Luciano, que é vegetariano e dono de dois frigoríficos, bonito... Melhor que os feche e faça churrascos de segunda a segunda com aquela cambada que canta em tons altos músicas de baixíssima qualidade. Sobre os métodos de abatimento eu prefiro não escrever, só digo que é cruel, demasiado cruel. Aprecio o vegetarianismo e acho o veganismo assaz exagerado e politicamente-correto (um queijinho não faz mal a ninguém: melhor para a vaca ter as tetas apertadas por estranhos, ou sugadas por máquinas, a virar almôndega); que eu chegue a parar de consumir carne - não para a utópica "salvação" dos bichos, mas para o êxodo de minha culpa que só me faz comer.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Caviar

[Longe de eu admirar a tolice do desapego-material-extremo, como fazem os opulentos indianos das castas "superiores" - que "evoluem" trocando todas suas posses por uma roupa (única) que vestirá seu corpo, um cajado e uma caneca para pedir alimento] Mas: "O que chamam de sofisticação, que em um seco resumo não passa de 'pagar caro e ostentar' coisas que de 'especial' não têm nada, pura demonstração de influencialidade e pequenez intelectual, como - hoje - acontece muito no meio gastronômico e também na moda das grifes, para mim representa (e nada ou pouco mais) o sucesso de grandes gênios da persuasão ácida (que derrete o bom-senso), esses que faturam com a histórica carência narcísica que mais poder tem sobre o mais tolos. Valorizo a sofisticação intelectual: prefiro minha estante cheia de bons livros a 'jacarezinhos' em minhas camisetas."

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Entre minha arte e o noticiário

"A inocuidade de minha atenção permite-me ser paralelo e investir em criação."

Se bastasse...

Meu conforto, minha "filhacidade" anacrônica - teu zelo a mim dispensado: "Estou bem acompanhado". Premissas falsas de uma conclusão ilegítima. Espera-se, ao menos nós homens maduros, de uma fêmea cotidianamente presente, mimos de mulher; os de mãe podem até ser bem-vindos, mas cabalmente insuficientes. Desejamos força e inflexibilidade, queremos damas submissas de acordo com suas próprias vontades de fêmea; não as que se permitem encarcerar num projeto de companhia por nós escolhido. Queremos silêncio nas horas, quase todas, em que o achamos adequado - e dias ruidosos regados a álcool ou gozos. Queremos tua risada em decibéis adequados a um ouvido macho, precisamos ser rodeados por classe. Te queremos do nosso jeito, mas só se quiseres.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Desabafo em Aforismo

Há dores e delícias em qualquer cotidiano - e justamente por ser homem e encarar toda e qualquer dor necessária, faço questão de usufruir, exaurir, tudo o que alimenta-me de prazer e significado.

Ensaio sobre a não-filosofia

Há uma corrente filosófica especificamente moralista que por ser antiquada e infantil deixa, para mim, de ser filosofia. Alguns pensadores extremistas creem que um objeto de arte, como exemplo, só o é se além de estético for ético. Um quadro "imoral" não produziria sensações em pessoas que imorais não fossem. Grosso modo: sentiu alguma (boa ou má) sensação contemplando uma imagem de pedofilia, é pedófilo. Será que para rirmos de uma piada de humor-negro necessariamente endossamos a tetricidade aventada? Quanta bobagem... Somos capazes de olhar pela óptica de um crápula sem sê-lo, podemos "entender" e até rir justamente por achar absurdo. Preferes ser humano ou um inquisidor anacrônico?

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Rede Antissossial

Um lugar virtualmente acolhedor e fisicamente desagregador. Uma muleta, para os tímidos e neuróticos, inócua, posto que da virtualidade nunca passarão. Pessoas que se veem pessoalmente e correm, cada uma para seu próprio computador, para iniciar o único contato possível. Celebridades toscas aventadas e aventantes - felicidade inversamente proporcional à publicada; a arte cada vez mais banalizada, o amor, então... Irritante filosofia de botequim, de "Tititi" - simulações fajutas de inteligência e conhecimento. Aprendi que, com raras exceções, ser lido (porção Narciso) é a única vantagem nessa seara de navegação, uso ativo. Esperar algo de bom vindo de um universo majoritário de zumbis tolos e pobres de espirito (e de conhecimento) chega a ser burrice. Leia-me, raramente lerei-te.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Todo Dia

Não era dia nem noite, tudo se passou no limbo que eufemizam como crepúsculo. Duda alcançara tão alto cume depressivo que nem a morte a animava. Era o quinto final de dia siamês, uma sexta feira que de quinta, quarta, terça e segunda só diferenciava-se em nome, mas era sexta. Todos os dias eram o mesmo, só que separados por pesadelos. O mesmo vil despertador, o mesmo café hipócrita, a escovação de dentes desanimada e despreocupada - a gangorra gengival que mostrava a iminência de banguelice tornara-se uma leve diversão. Mas era sexta. O céu cinza com migalhas de luz propiciava velados sorrisos de ironia - com eles fazia analogia com a merda de vida que levava, fedida, mas com borrifadas camuflantes de perfume. Só lhe restava aguardar o fim do alienante fim-de-semana que tentava ocultar a vida medíocre que lhe pertencia e de cuja não mais tinha vigor para sequer pensar em dar cabo. Dormiu, mas no subconsciente sabia que ainda era pela quinta vez o mesmo dia.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Amor: substantivo masculino

Seco, cego, tosco. Banal e único - amor... Sempre vem e vai sem do lugar sair, tetraplegia hiperativa que consome e alimenta. Dizê-lo paradoxo? - clichê antiquado e verossímil, tolo e essencial como tudo que o cerca. Caminhos contrários de um mesmo círculo, rótulos otários para um mesmo vinho. Escrever sobre algo tão irrelevante promove recursos inesgotáveis.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Pernas e Braços

Intervir, por meio de leis jurídicas ou morais, na soberania que uma pessoa tem sobre o próprio corpo é a cabeça maior e mais recheada de estrume da medusa do "politicamente-correto". Exemplo lúdico e exagerado (e que a posteriori remeteu-me a um famoso pintor) : Se eu por loucura ou simples gosto tétrico achar que fico melhor sem a orelha direita e resolver mutilá-la, é direito de alguém se meter? Mas quero tratar de coisas aparentemente mais amenas (ou não, posto que a variável principal é a arregimentação de valores pessoais - mesmo os que provém de coletividades religiosas ou de qualquer seara semelhante). Claro que crianças funcionais de doze anos precisam da intervenção dos pais acerca de decisões sobre a carcaça que é tão malformada quanto o intelecto; forrar o corpo de tatuagens antes da maturidade pode não ser uma boa. O aborto (a que sou a favor em determinadas e extremas - algumas nem tanto - contextualizações) foge deste ensaio por envolver mais de um corpo (mesmo assemelhado a um girino, é um corpo); já a eutanásia (desde que consentida, embora minha explicação seja pleonástica)... Minhas reticências somadas ao início da crônica já declararam minha posição. Sempre fui a favor da campanha do corpo, cada um cuidando do seu - não admito regras para o meu bem, além das minhas, claro. Poderia alongar meu texto com teorias conspiratórias e analogias ao fascismo, mas prefiro ser pragmático e conciso, mesmo por querer mais leitores. Em tempo: não pretendo mutilar minhas orelhas, as moças já me convenceram do charme da assimetria disforme.

sábado, 30 de março de 2013

Flato

E (quando) vais perceber que os gênios só o são por habitarem palpáveis solidões piores que a tua - encher linguiça fora arma contra as efemeridade e insignificância; vislumbrar a morte, ou melhor: saber que se vai morrer, esfrega em qualquer fuça a grandiosidade análoga a de um feijão em meio a orelhas, pés, bacons e carnes-secas. Menos, muito menos que isso. Por mais que leias, que escrevas, estudes, pratiques o bem, converses...; por mais parasitas semelhantes que a ti consumam, serás nada - quando pensares Nela (a Morte), serás resíduo. O egocentrismo será duramente ilegitimado. E a certeza da intransponibilidade da solidão não servirá nem para enlouquecer. A ciência da mediocridade silencia. Tomos grossos e filosóficos foram perda de tempo, posto que (f)Filosofia é meramente e maravilhosamente pessoal. Só nos resta perder tempo.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Treino, Logo Existo...

Antes, um prelúdio (pleonasmo licenciado poeticamente): Aos preguiçosos(as) oportunistas que querem um corpo de "Conan" com "atividade" de um leão-marinho - digo para não se animarem. Quero deixar claro, também, que detesto tópicos como "pesquisa mostra que...". Ao texto. Grosso modo, somos cérebro. Até as dores no dedão-do-pé são cerebrais - não precisamos nem do dedão para nele sentir dor. Mas não é de pé que quero falar. Alguns artistas do teatro (também) ensaiam em pensamento, vislumbram (quase, posto que imprevisibilidades são de praxe) tudo o que irá acontecer: suas falas, movimentos, silêncios... Costuma dar certo. Há poucos dias li uma matéria sobre a ciência que envolve os exercícios. Nenhuma novidade, além dos nomes científicos de determinadas regiões da massa cerebral. Mas tudo o que escrevi até aqui foi para chegar na seara dos esportes. Para alcançar a "inteligência muscular" é preciso repetições, ou seja: treino. Não é em vão que lutadores repetem obstinadamente seus golpes e/ou "posições" (corroboro o que disse no primeiro parágrafo), mas treinar mentalmente ajuda (oquei?) bastante. A inteligência muscular, como tudo em nós, é cerebral - apesar de muitas vezes o corpo aparentemente "pensar" antes do cérebro. Em reflexos, decisões corporais em centésimos de segundo. Para ilustrar: Ontem, eu quase bati a porta no meu pé, mas mesmo assim senti a dor que a batida causaria. Daí nasceu a vontade de escrever este texto. Não vou alongar-me, mesmo porque meu texto já ultrapassou os cento e quarenta caracteres que o povo "urgente" e preguiçoso costuma suportar. Bom treino. Mental e físico, é quase a mesma coisa, mas não é: pensar não lhe dará condicionamento, físico atlético e força. Quase em tempo: usei o "Conan" para os dois gêneros porque as mulheres da maromba não querem mais corpos femininos. Triste.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Ensaio Sobre a Cegueira intelectual

Confesso-me perdido, cego cognitivo - verve esquizofrênica, louca - chega de eufemismos. Criatividade perdida em minha nuvem neuronal, sinapses a distância. Criações, mesmo quando fictícias, nascem de sentimentos; em qualidade, tanto faz se dos melhores ou piores. O gênio em paz o é e não - tormentos distinguem um texto de um poema. Ensaios poéticos são a meta salutar de de um intelecto artístico. Destramar ideias antes que os nós ceguem, mas usufruí-las amassadas e aparentemente confusas - obviedade é para iniciantes. Como o sexo diante do amor. A sã consciência de cuja fujo afastaria-me temporariamente dos insanos que me leem, mas a porção Narciso de minha existência traz-me aqui com este texto paradoxo a sua essência. Há um crocodilo na minha parede.

terça-feira, 12 de março de 2013

Você

Ele(a) é louco(a)! Já notaram o quão genérica é tal afirmação? Percebem o prazer quase orgasmático que propicia aventar essa direta? E, o ponto principal deste ensaio, conseguem enxergar o efeito "espelho" na maioria das vezes em que atacamos com essa retórica acusativa? Pois é, meu povo, geralmente, o que detestamos em alguém é o que nos é insuportável em nós mesmos. Qualquer pessoa atenta ao comportamento humano nota o "tesão" que um ex-fumante tem em atacar quem fuma; a alegria sádica de uma pessoa que perdeu alguns quilos quando investe contra os gordos (investida riquíssima em disfemismos). Nas relações de afeto espiritual e carnal, o reflexo é menos evidente, uma "casa dos espelhos". Nosso cérebro tem, grosso modo, a função de coonestar tudo o que fazemos e pensamos, a culpa por fracassos é sempre de quem está dividindo uma vida com a gente. Pessoas extremamente carentes que reclamam de falta de atenção, muitas vezes camuflam o medo (doentio) de perder tal afeto a ponto de cegarem-se para o amor cotidiano que lhes é dispensado, creem que sem "eu-te-amo" amiúde não há amor, que sem afagos (ininterruptos) na cabeça não existe parceria. E com esse comportamento insuportável, muitas vezes acabam afastando quem lhes ama de fato. Resumindo: por culpas nossas perdemos e acusamos. Eu amei demais, mas por conta dessa carência acabei sufocado e investi no êxodo. Ou será que só estou jogando toda a culpa nela?

quinta-feira, 7 de março de 2013

Aço Besta

Argumentar quase sempre é inócuo - ontologicamente, as pessoas só veem e ouvem o que querem; e ainda contamos com o apoio neurológico: nosso cérebro chega até a mudar o passado para coonestar nossas posturas. Somos todos inflexíveis, que sejamos, então, seres inteligentes e cultos para que ostentemos "arrogância" fundamentada; burro e teimoso é muito brega.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Queremos Banana

E somos muito mais "bicho" do que imaginamos - Darwin está presente em comportamentos como "achar o Neymar lindo (é muito mais profundo que o fato de ter grana - dentro de campo ele está vencendo as batalhas contra os machos concorrentes - seleção pura! - sábias fêmeas), desejar o vocalista da banda em primeiro lugar (¹aparentemente, ele é o líder da matilha - por mais feio que seja); e até mesmo quando as mulheres buscam os homens mais inteligentes - selecionando, instintivamente, para a reprodução. Dinheiro atrai, mas somos muito mais macacos do que oportunistas. O tesão é diretamente ligado à evidência, seja ela qual for. ¹Aparentemente, posto que um ser que, muitas vezes, não sabe o que é um "DO MAIOR" não tem capacidade para arregimentar e dirigir um grupo de músicos.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Ronco

Nas pestanas me encontro, dissido da realidade que cega-me ao surrealismo que nos emoldura. Devaneios de fato são os trabalho, concentração, equações exatas... Há espaço para mais de um universo em minha mente, mas não há nele como acomodar outra gêmea à minha. Aliás, pode ser que nada além dela exista. É bom saber que sem mim meu mundo não pulsa, vingo-me da insignificância que ele vive a esfregar em minha face, em minhas vísceras. Ser tudo e nada ao mesmo instante - é o que dá e tira qualquer sentido a nós, são sopros e tapas amiúde. De olhos fechados e respiração serena, tudo sou e tudo compreendo, até despertar; no aguardo do dia em que não despertarei. Eis, assim, a mim e o mundo livres um do outro.

Pentecostal Ortodoxa do Raciocínio Reacionário Abjeto

Há um lugar para ser infeliz, onde utopias de mundos perfeitos e sustentáveis (argh!) são destroçadas na iniciação; com base no axioma "O homem é mau e Deus, indiferente", garimparemos o mais puro otimismo, que é conhecer o fato de sermos uma experiência que deu errado e não passarmos de agonia antropomorfizada, de seres carregadores de seus próprios cadáveres nas costas. Todos terão de engolir a P.O.R.R.A. - a verdade cabal de que é a vida uma mentira absoluta, baseada na esquizofrenia coletiva, vai te invadir, te enlouquecer de sanidade. Bem vindos. Apóstolo Rodrigo Marucco.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Deleite

São meus sonhos, quando desperto, tão ou mais surreais; meus velados desejos os mais explícitos em meus atos. Ou o avesso disso tudo. Saber-me incompleto cabal, enxergar a plenitude na insignificância - eis tesão em não haver diferenças entre mim, entre todos nós e a mosca que orbita o que já digeri. Que paz, sem mim ou sem qualquer um a Vida é a mesma; até mesmo sem vida. Existências que realmente usufruem a nossa cabem em uma das mãos - e elas se vão. E ela, ou Ela, nem debocha. Equânime, dou sentido a cada insignificante minuto de minha estada, só eu o posso - por mais supérflua que esta seja aos olhos da Vida.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Novela

"E querendo que o mundo acompanhe tua vida, nem mesmo você a acompanha." Fotografias são ferramentas extraordinárias, imortalizam pessoas e momentos queridos. Mas um doentio exagero tomou conta dos "instagramers". Brincar de fotógrafo é muito divertido, mais ainda podendo publicar as imagens para que os amigos vejam - mas quando o número de fotos é maior que o de minutos vividos na ocasião (passeios, festas, etc.), já deixou de ser salutar, não? Claro que essa equação é de um número exagerado (nem sempre), mas o fato é que as pessoas estão trocando a vida real e suas delícias pelo personagem, geralmente feliz, que interpretam. Esquizofrenia digital - já pegou.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Incompatibilidade

És o mais belo esboço de um amor, nada mais. O Quase é onipresente em nossos encontros; e a Paz, nos desencontros. Irônico, o Acaso debocha, fecunda a saudade quando próximos e o contentamento só de longe. O vil milagre de não seres quem és torna-te uma mentira - coalha qualquer esperança que flua. Não deixes de não ser você, assim prefiro-te distante.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Grude

Ainda não tenho, nem nunca terei, cabais certezas acerca dos rompimentos de relacionamentos afetivos, poeticamente: do êxodo do amor. Porém tenho conhecimento, mesmo por própria experiência, de uma causa poderosa – o aborto da solidão individual. Ninguém, sim – ninguém!, nem mesmo os mais afetados e patologicamente carentes são capazes (leia-se “suportariam”) viver sem momentos de deserto físico e espiritual; o filósofo (e padre) Fábio de Melo é assertivo e acertante quando diz “Deus me livre de não ter meus momentos de solidão”. Quando um parceiro(a) aceitar (duvido) a frase “Amor, hoje eu preciso ficar sozinho” sem forjar crises de insegurança e ciúme, assim respeitando a individualidade e a melancolia que, também, nos alimentam – é grande a chance de fortalecer seus laços para com o solicitante. É insuportável a “obrigação de querer estar sempre perto” - é asfixiante e irritante. Erroneamente, as pessoas sequestram umas às outras. Concordo que quem ama quer estar perto, mas sem descanso o amor infarta.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Fatura

Únicos e definitivos, acerca do amor e da morte não adquire-se experiência. Mas venho aqui glosar sobre relacionamentos, que, ungidos de amor ou não, são inevitavelmente complexos e massacrantes. Não é segredo que para que haja harmonia precisemos amputar fragmentos idiossincráticos, mas poucos vislumbram o preço que o ego cobrará por tal automutilação. E, perdoem-me esta aparente digressão, intelectuais são péssimos amantes, posto que qualquer dúvida sobre seus sentimentos ou visões de vida ferem o orgulho que nutrimos [essa silepse nasce do fato de eu (in)feliz e sem modéstia considerar-me como tal). O autoconhecimento, embora clichê, é eficaz (leia-se como "única forma"); doar-se é bonito e bom, mas uma equação para definir até onde é imprescindível. Ou quem pagará o preço é quem está ao teu lado.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Sim

"Sonhos finitos, é a vida um milagre efêmero. Uma batalha sem sentido, posto que sempre perdida - o fim, cedo ou tarde, é escatologia. Tapeia-se a morte, persuadi-se – mas morte é espelho. E é justamente por isso que se deve dar sentido a cada segundo, por mais medíocre e procrastinador que pareça. Se minha existência é um sopro do acaso, só me resta envasá-lo em frascos sortidos de paz – pequenos, aliás.
Para cada gota de bom momento há um oceano de mazelas, o que acaba (deveria) por valorizá-las. Otimismo é o deus da infelicidade, projeta utopias como possibilidades; resignação é compreensão, compreender é valorizar"

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Fermata

Eis você, algoz de minha abulia. Horas longas, aparentemente contadas para trás, açoitam os alongados cotidianos quando não perto de ti - permitem o idílio apenas por meio de palavras escritas, com olhos foscos e secos. Refratário, escondo da vida a falta que você me faz. A cada chegada nasce a euforia do reencontro recoberta de mazelas futuras, chagas reticentes que vislumbram o ardor de um simples até logo. O silêncio que a vida prática implica, mesmo vivendo poucas horas, amedronta e arranha toda a segurança que o tal de amor edifica – lúgubre, comparo cada fragmento do cronos sem você com o exaurir de tua existência. Dos pueris apelidos que atribuímos às mais íntimas parte de nossos corpos nascem personagens simbióticos que, por assim ser, inevitavelmente precisam estar próximos. Deitas em meu ombro a léguas de distância, com cheiro, calor e lascívia inconfundível – estás aqui só quando longe; pois de perto tu me és.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Uni

Dentre as improváveis realidades, nada é tão inverossímil como tua morte em mim. Sedento de tua saliva e faminto de teu corpo, norteio um futuro mais presente que o agora; cri que amaldiçoei o mais abençoado dos meus dias, aquele em que a conheci – foi das minhas mentiras a mais infame e genuína. Que culpa tens acerca do galope cardíaco que invade uma mera e trivial lembrança, uma pequena toalha suja de amor, que seja? Não, tua única e absoluta culpa é a de não permitir que qualquer momento seja singelo e banal, eterizas todas as coisas. Perdendo-me nos segundos que quando longe de ti tornam-se robustos e nada plácidos, encontro-me na alegria de que cedo ou tarde simplesmente estaremos.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Hiena Consciente

Se é para ressurgir das cinzas, que seja eu. Flagelos sistemáticos não me interessam, a ida de um amor só tortura quando sua volta é possível. Hoje, deleito-me na satisfação de nada poder fazer em relação a nós; mais ainda na de quase tudo poder fazer por mim. Vejo o início do calendário como uma oportunidade única de aproximar-me de quem sou, não preciso afastar-te, isso fazes com maestria. Quanto ao mundo vil, posso ser mais e gargalhar sobre sua carcaça. Em frente.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Tédio

Ele foi. Roberto era avesso a foguetórios e abraços falsos, amava o que chamava de família desde que a distância. A chuva que tanto pediu não veio, o céu enluarado corroborava a afetação que preferia evitar; precisava... Mas ele foi. O porco de olhos verdes assado sobre a mesa manteve um olhar alegre tão improvável quanto o carinho distribuído pelos festejantes - a maçã grosseiramente enfiada na boca nada tinha de pecado, muito menos de original. Havia mais de uma hora para as felicitações e elas já causavam comichões em suas tripas - correr era uma hipótese mais provável a cada minuto. Mas ele foi e ficou. A cerveja embriagava bem menos que o de costume, menos até do que as patéticas e engorduradas rabanadas. E chegou a meia noite, trouxe com ela corpos suados compulsivos por abraços e palavras inócuas - um "vai tomar no cu" brotara em sua testa, mas com jeitinho o disfarçara. De que adianta um ano acabar se outro começará? Começou. Será que ele vai?