terça-feira, 29 de abril de 2014

Darwin

Querem mesmo divulgar e incentivar quem já é racista (que não é nada criativo - essa história de jogar bananas já deu, não?) comendo bananas? 
A hora é de indiferença; não de sensacionalismo.
Mas se insiste: peça para uma amigo segurar seu smartphone e filmar enquanto você enfia a banana no reto. Depois, num flato, solte a casca em formato de estrela do mar. 
Vai dar o que falar, garanto. 
Meu povo, estão cometendo racismo imbecil e pueril - para chamar a atenção.
Seja blasé e a "criança" vai perceber que a brincadeira perdeu a graça.
E não venham com a história de "anos de escravidão", violência...; os tempos são outros, o racismo é social (claro que há idiotas preconceituosos que chegam à violência física) - lutem por educação igual para todos - sem cotas; não por casos isolados praticados por idiotas que querem aparecer.
E outra: a vítima (a última) é um ídolo (veja o paradoxo) ganhando meio milhão de reais por mês - admirado por um mundo de gente racista e/ou não.
Quanta gente boba.
Em tempo: nem sei por que falei disso - não gosto de temas em massacrante voga. E olha que eu nem assisto à TV.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Vespeiro

Acabei de dizer a "mamis" que é sadismo manter vivo um ser (nossa cachorra) em situação tão lastimável. Por ela, minha mãe, possuir amor e "cumplicidade" com a múmia (também gosto dela - mas um tanto mais de longe), fui obrigado a elucidar que não é nada pessoal (eu desejar que ela morra): se eu estiver em estado semelhante desejarei que logo parta a meus sete palmos (se eu tiver condições, dou um jeito); se ela, minha mãe, chegar a viver indignamente desejarei o mesmo (mas por motivos legais, não daria um jeito). E se o ser que mais amo, meu filho, deixasse de viver uma vida que valha a pena - com esperança, sem dor, sem humilhação - também desejaria.
Sou uma espécie passiva de assassino da indignidade: cabalmente a favor da eutanásia - inclusa a infantil.

Imprecação

Ontem, uma grande (e a mim imune) amiga me disse:
- Gostaria de saber como você faz para sempre ter uma pessoa apaixonada por você.
Respondi que sou amaldiçoado, um bilhete de loteria. 
e indiquei o necessário texto abaixo. 

Paliativos (Francisco Daudt)

[...] "É evidente que o maior sonho de todos nós é amar alguém, e por esse alguém ser amado. Ou, de forma precisa, ser a prioridade erótico-afetiva de alguém que é nossa prioridade erótico-afetiva.

Mas, eta coisinha difícil de acontecer. E quando acontece, é fugaz como um raio, mesmo que caia mais de uma vez no mesmo lugar. Não importa, o desejo nos assombra como um vácuo a ser preenchido.

Como qualquer obsessivo, vivi olhando os 20% que faltavam e desdenhando dos 80% que tinha. Ou, nas palavras de Ricardo de Albuquerque, “a felicidade está onde nós a pomos, e nunca a pomos onde nós estamos”.

Aqui entra Leibnitz (filósofo alemão, século 17) com sua mal compreendida tese de que nós vivemos o melhor dos mundos possíveis, num aparente otimismo doentio que levou Voltaire a ficar furioso, e escrever “Candide”, um cômico deboche sobre um otimista incurável a quem todas as desgraças imagináveis aconteciam.

Porque, se nosso maior sonho é tão raro, é melhor que vivamos sem contar com ele. Este será o nosso “melhor dos mundos possíveis”. E se aquele encontro da cara-metade platônica é assim como a mega-sena, bem, podemos comprar o bilhete, mas não vivermos obcecados por nosso “azar”, já que o normal é que o prêmio não saia.

É a vez de falar dos estóicos, outro grupo filosófico mal compreendido. Eles não são “os que sofrem em silêncio”, como se costuma entendê-los, mas os que acolhem sem discussão suas realidades imutáveis. Assim, fará tanto sentido para um estóico se lamentar por só ter uma perna quanto você se lamentar por ter duas. Ele não se referencia como “alguém de uma perna só”, mas como alguém que vive no melhor de seus mundos possíveis. Um estóico nunca será um coitadista, a faturar em cima de sua desgraça, já que ele não vê o fato de só ter uma perna como tal.

Então o estóico é um “resignado”, um “conformado”? Não! Isto seria se referenciar pela falta da perna, coisa que ele não faz. E se surgir uma prótese legal, o melhor de seus mundos possíveis se ampliará, e ele vai se valer da prótese. Ou seja, ele não ignora que só tem uma perna, ele só não vive em função disso.

Quer dizer que, na falta do sonho de amar e ser amado, da fantasia romântica de filme, só nos restam paliativos? Ora, chamar de paliativos o amor companheiro, a amizade, a camaradagem, a ética, a leitura, o fazer o bem, o cuidar da família, o cultivo do espírito, os erotismos possíveis, a conservação de valores prezados (disso, sou conservador, com muita honra), a crítica de valores desprezados, a interação com a cultura, o lazer e o ócio criativo, novamente é se referenciar pela falta do prêmio lotérico.

Mas eu compro bilhete…"

domingo, 20 de abril de 2014

Forca

Já era invejante o grave câncer - patologias lúdicas já haviam lhe empanturrado. Até quando aguentaria o dia próximo, esses amanhãs involuídos a ontem?
O corpo em perfeito funcionamento - exames vários esfregavam-lhe na fuça; as viagens fartas em quilômetros e riscos de cujas saía intacto geravam amiudadas decepções.
O sentimento de inadequação terrena corroía, mas só a alma. Se a doença do espírito não se esparrama pelo corpo, de nada serve.
Já era claro que não haveria um fim, o cabal, sem agir - mas coragem de protagonizá-lo ativamente não possuía.
Talvez, bêbado e drogado alcançaria essa impavidez - mas nessas horas a vontade era de viver, de não dormir: procrastinar o sono que acabaria com a felicidade química, a única possível.
Suicídio não era compatível com esses momentos.
Resignou-se: viveria muito. Só porque não queria.
E ao fim, décadas vividas compulsoriamente - beirando o sonhado êxodo, percebeu que morto sempre foi.
Sorriu.






terça-feira, 15 de abril de 2014

Fim

Entrei como o costume me ensinou a entrar; só consegui enxergar ao fechar os olhos: as lembranças faziam diáfanas as minhas pálpebras.
O cheiro não estava mais lá, mas senti-lo não foi trabalhoso - a pipoca e os cães sedimentaram seus aromas em minhas memórias.
Ela, minha mãe, concisa em corpo, em contraste com a sabedoria, saudosa e triste - o retorno era motivado por ocaso, doença.
Já não tinha controle sobre meus dedos, esses que compeliam meu salário. Era eu escritor, não desses de livros - os artistas. Escrevia histórias tristes e absurdas de um povo marcado pela violência, pela prisão sem muros em que todos nós nos encontramos.
Mas com meu corpo desenhando-se uma árvore eu não podia mais labutar na delegacia. Meus membros atrofiando me bancaram uma excursão pelo prédio e os ofícios nele realizados - só faltou eu ser "peso-de-porta". Acabou - a doença transformou meus três anos de trabalho em trinta.
Amigos? Não, não... Sumiram todos. Cheguei a minha antiga casa pela gentileza de um desconhecido comprada por uma boa quantia de dinheiro.
Minha mãe não se levantou, coitada: já não o fazia sozinha há mais de meia década; e quem era eu, aquela árvore com galhos sem rumo, para ajudá-la? E um abraço seria no mínimo tragicômico.
Trocamos olhares tristes e felizes; mais felizes que tristes: estávamos juntos e nossos fins eram próximos.
Quem sabe sincronizados?


quarta-feira, 9 de abril de 2014

Vá. E vá indo.

Sabe o que existe além do horizonte? Nada! (Hipótese não-peremptória)
Assistam ao filme "Tapete Vermelho" - há uma cena onde o protagonista diz: 
- Não gosto desse negócio de pagar aqui para receber depois.
O sábio usufrui, não busca pertenças, tampouco recompensas. Busque a escritura dos seus significados, e rasgue-a (você pertence a eles, não o contrário). Viva-os - é o que nos resta até morrer. Tenha fé, mas operante, aja.
Não espere intervenção - se Deus é bom, ele não ajuda a poucos e ferra com outros. Pense mais na morte que na vida - assim a vida será mais intensa e deliciosamente tenebrosa. Compartilhe menos e vivencie mais - não deixe o "dever" do registro roubar-te o momento.
Quando caveiras, pouco importarão teus arquivos - o mesmo vale para o que foi vivido; mas vivido foi.