segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Empíricas e Plenas Verdades sobre a Paixão.

A paixão... Que poder exerce sobre nossa essência, não?
A paixão não anda só: amigos fiéis são o ciúme e a carência. Juntos têm o poder de voltar a tempos remotos, de ressuscitar mortos.
Fisiognomistas* chegariam à conclusão de que incuráveis loucos são os apaixonados. Sim, a paixão transforma tua face.
Mas a convivência é uma vacina contra esse mal tão prazeroso, ou melhor: um atenuante. Afinal, o que é o amor se não uma paixão domada, branda, cognitiva? Conversa tola essa de que se quer o amor feliz mesmo que longe. Amor é próximo, é justo. Amor se prova nos almoços, nos telefonemas, na cama... Leniente paixão é o amor.
Inimigas mortais são Solidão e Paixão. Quando no estágio da paixão propriamente dita, antes da suavidade cotidiana, pessoa alguma quer ficar só. Nem por um simples giro do ponteiro grande do relógio, esse que leva séculos pra se completar. Uma pessoa apaixonada quer devorar, gerar e parir seu parceiro.
Mas se a convivência trouxer anexo a brandura o respeito, a Solidão passa a coexistir pacificamente. Sadia solidão essa que traz a certeza do amado sempre por perto.
Em tese: Paixão boa é paixão velha, ou seja: amor.


* Cientistas que estudavam a personalidade de acordo com a fisionomia das pessoas.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Eis Eauton


Sujeito complexo e pétreo, ele mutila sua verdade para disfarçar sua arrogância. Sua busca bem sucedida por conhecimento lhe concede um poder politicamente incorreto, e extremista, de classificar as pessoas como inteligentes ou idiotas. Mas o que é ser politicamente correto? Hipócrita!!! É o que responderia.
Não tolera pessoas tolas, não suporta conversar com pessoas cujas hermenêuticas equivocadas (tontas ou falsas) não permitem a real compreensão de seu discurso.
Odeia quem lhe rouba a solidão e não lhe dá nada em troca. Aliás, nada vale o preço de sua solidão que, em alguns momentos, é seu bem mais precioso.

Sujeito complexo e sensível, ele mutila sua verdade para disfarçar seu amor. Sua busca bem sucedida por conhecimento lhe concede um poder politicamente correto, e justo, de classificar as pessoas como iguais. Mas o que é ser politicamente correto?
Leniência... É o que responderia...

... Ama quem lhe rouba a solidão e lhe dá afeto em troca. Aliás, nada vale o preço da presença de quem, a todo e qualquer instante, é seu bem mais precioso.

“Ecce homo” (Eis o homem): maniqueista sem religião, monstro sem cabeça, anjo sem asas...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Agon


Chovia muito. Eu e Nádia acabávamos de discutir, decidi caminhar...
Minha capa me protegia da chuva, mas não da agonia. Após um hermético encharque, sequei as mãos num lenço, que, por higiene ou algum transtorno, tinha o hábito de carregar dentro de um saco plástico, e saquei meu telefone que, por motivos óbvios, estava em outro.
Liguei para Eugênio, amigo de poucas palavras, mas de muitas letras; disse-lhe que queria me separar e, também, queria sua companhia numa viagem pela América do Sul.
- Não quero.
- Mas por quê?
- Gosto de minha cidade e uma viagem dessas é muito cara.
- E se eu pagar todas as despesas?
- Não.
- Por quê?
- Por que será caro e inócuo para você.
- Como assim???
- Marcos, você pode sair de sua cidade, mas não de você mesmo.
Lembrei-me porque tinha ligado logo pra ele...
Achei que a distância seria o antídoto para toda dúvida que carregava, mas Eugênio logo me persuadiu passivamente. Era um bom amigo. Bom amigo é aquele que, em feitas sérias, fala pouco.
Com a consciência de que eu não evitaria conflitos e sofrimentos, que vivê-los era iminente, sentei-me à guia e fiquei namorando o rio que passava ao rodapé.
Às vezes é pueril procurar o “lado bom” de uma situação ruim, mas não foi assim dessa vez...
Cheguei à conclusão de que o maior instrumento para o crescimento não é o amor, é a agonia.
Conflitos nos fazem decidir; certezas nos paralisam. Perguntas nos movem; respostas, simplesmente, não existem. E fiquei enaltecido quando percebi que o presente é o Deus do cronos, que em um passo eu já tinha vivido passado, presente e futuro, e, inevitavelmente, voltado ao presente.
Sutil torna-se a agonia quando deixamos de imaginar o que será. E o que é, ninguém sabe.
Mais uma vez o acaso se provou onipotente e onipresente.
Voltei para casa.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O outro

Minha solidão fica só quando você se achega de mim. Certas feitas, ela caminha de mansinho em nossa direção; um único olhar ofertado a ti é o bastante para que fiquemos novamente a sós . Eu, você e nós. É, minha flor, nesse momento de desarme, entrego-te a verdade: eu só consigo viver a três. O Nós me fortalece, e sabes que preciso de ti para encontrá-lo. Nunca tinha-o visto até experimentar teu beijo. Ele me permite ser dono de mim, ser eu em minha essência, em minhas verdades torrenciais... Confesso que a Solidão também tem comigo esse zelo, mas com o Nós tudo perde aquele tom acinzentado. Teus seios enlouquecem, teu cheiro entorpece, e ele, o Nós, se faz uma espécie de deus ardentemente desejoso, tranquilizando-se apenas após a explosão de nossos desejos, momento em que desmoronas-te em cima de mim.
Estou feliz por ele estar freqüentando mais as nossas vidas, assim eu consigo ser eu e você, você.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sou

Liberto-me porque conheço o meu poder. Posso ser quem eu quiser: posso ser o sensível pianista, posso ser o forte lutador; posso ser um carinhoso amante, posso ser o cafajeste que as senhoritas odeiam amar... Posso até ser Napoleão, não castro a minha loucura. Minha alma é extensa o bastante para acolher cada um dos meus seres. Sou um ladrão de minhas ideias, mas um bom ladrão, uso-as. Atravesso diariamente uma espécie de ponte circular, sem extremos. Passeio por minhas calmarias e inquietações. Respeito o fato de ser o acidente mais complexo que o acaso criou. Posso ser até mesmo eu.