quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Não penso, logo existo

Conflitos existenciais são, ao mesmo tempo, inevitavelmente intrínsecos e venenosos à vida cotidiana. Agonia propõe hesitações, sendo essas geradoras de fracassos e consequentemente culpa. Nada como uma, mesmo quando não coerente, culpa para fazer-nos ininterruptamente infelizes.
É muito fácil fracassar em um mundo, leia como “estilo de vida”, totalmente em desacordo com sua “natureza”, e, cruelmente, é muito difícil (mas indiscutivelmente necessário) digladiar diariamente contra sua essência em busca de uma vida “digna”.
Para algumas pessoas tudo vai bem quando vai “como sempre”. Férias, Natal, Carnaval, décimo terceiro salário são sinônimos de “cultura e liberdade” para essa grande massa de afetados, porém, indiscutivelmente, mais realizados e “felizes” que pessoas instruídas que levam algumas décadas para aceitar que não é a vida que tem que se adaptar às grandes almas. O inverso é a verdade.
O amor ao saber, sim, a Filosofia, é um grande aliado quando nos vemos obrigados a abrir mão de convicções (nem sempre tão convictas) em nome de uma “felicidade” trivial.
Sentir-se “normal” é o diagnóstico preciso de uma pessoa que, alienadamente ou não, se sente feliz e de acordo com a vida. E é aqui que volto ao que, precisamente, dizia no primeiro parágrafo desse ensaio, hesitar sobre coisa tão importante como seus próximos anos de vida é uma atitude negadora, que pode ter como conseqüência uma vida toda de culpa.
O “foco” (de tão usada ultimamente acho essa palavra muito brega) é, simploriamente falando, o grande segredo do sucesso e da normalidade necessária para sentir-se parte funcional desse grupo.
E quando o grupo é uma família?
Culturalmente e adaptado aos dias de hoje, um grupo familiar é formado por um homem, inevitavelmente, provedor; uma mulher independente e filhos estudantes. E o homem é o único que em nada pode mudar seu papel. O tripé da auto-estima masculina tem como base saúde, afeto e grana, faltando algum desses itens fica fácil cair, e quando o que falta é grana fica fácil ter amputadas as outras duas pernas que mantém sua auto-estima “em pé”.
Você vai hesitar?

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

An meinen Sohn Johan

Sentirás que esse amor é único, não há modismo nem cotidiano capaz de cerrá-lo, não há como trocá-lo, e, fundamentalmente, não há como deixá-lo de lado nem por um único segundo. Embora atarefado, sempre estarás com parte de teus pensamentos nele, mesmo que não percebas.
Dependerás do contato com tua pele, a abstinência de tua presença causará medos, angústias, tremores... Dependerás de sua voz, mesmo que com palavras pouco compreensíveis.
Você jamais será o mesmo, jamais, por mais espiritualmente esclarecido que sejas, fará algo pensando
só em você sem vivenciar um velado sentimento de culpa.
Tentarás ser uma pessoa mais séria, mais adulta. Mesmo com frustrações amiúde, não desistirás.
Não consegues mais imaginar um futuro sem ele sob tuas asas, mas também sabes que esse dia chegará. Viverás o medo da morte que nunca sentira, o medo da dor que nunca o preocupara. Diante de teus olhos, ele crescerá rápido, mas nunca o bastante para tornar-se um adulto. Serás feito de bobo, ou, no mínimo, fingirás apenas para agradá-lo. Perceberás que a educação que lhe parecia tão simples para com terceiros é, sim, um bicho de sete cabeças. Perceberás que dependes muito mais dele do que ele de você. Seja o pai que almejas, ele será teu filho amado de qualquer forma.