segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Fuga para Si

Por diversos motivos (trabalho, relações amorosas, preguiça, etc.), rompemos com atividades que nos fazem bem, nos desligam do mundo exterior, elevam nossa autoestima. Filosoficamente traduzindo, atividades que têm “significado”.
Contrariando o que dizem muitos especialistas, quando, o que é inevitável, sofremos dos males triviais do mundo como ansiedade, angústia, depressão, vícios químicos, dores de cotovelo e demais
infortúnios, devemos mergulhar nessas atividades e não “afetarmo-nos” em propostas novas, o que significaria o mesmo desespero já vivido.
É claro que existem novas propostas com “significado em potencial”, mas aí dependerá de reflexão (não muita) e foco.
Quem não viveu não imagina a delícia que é retomar uma atividade concretamente prazerosa (cujo prazer prolonga-se após seu término, fazendo “um bem” inestimável), tais como retomar o seu esporte existencial (termo meu com significado óbvio, não explicarei), reencontrar pessoas com quem realmente se preocupa (só a preocupação é capaz de provar o verdadeiro amor), revisitar lugares onde de fato você gosta de estar...
Reparam como as pessoas tendem a usar o tempo, ou melhor: a falta dele como desculpa para serem infelizes?
Qualquer pessoa tem capacidade de reservar um tempo para teus significados, até as mais “ocupadas”, que na verdade são mais neuróticas do que “sem tempo”.
Especificamente falando de esportes, eu concordo plenamente quando o filósofo Fábio de Melo diz que cuidando do corpo também cuidamos da alma, o que de maneira diferente já dizia o preparador físico Nuno Cobra em seu livro “Semente da Vitória”. Cuidar da morada efêmera de nossa alma é a ferramenta mais eficaz para alcançar a alta autoestima, o que, sem dúvida, é básico para uma existência harmônica.
Sentir-se bem não é inevitavelmente ligado à estética, não creio que todos devam ser “Giseles” ou “Gianecchinis”, mas que todos devem sentir-se saudáveis, ou seja, efetivamente vivos, isso eu afirmo com toda a minha não tão ínfima certeza.
Mas como esse texto não é propriamente sobre autoestima, e esporte para alguns não tem significado algum, quero terminar pedindo que todos façam o que lhes faz bem, acompanhados de pessoas que lhes trazem prazer e em lugares que realmente gostariam de estar. Quem sabe assim não fiquem tão chatos (deprimidos ou otimistas em excesso) e tornem meu mundo mais prazerosamente habitável?

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Não penso, logo existo

Conflitos existenciais são, ao mesmo tempo, inevitavelmente intrínsecos e venenosos à vida cotidiana. Agonia propõe hesitações, sendo essas geradoras de fracassos e consequentemente culpa. Nada como uma, mesmo quando não coerente, culpa para fazer-nos ininterruptamente infelizes.
É muito fácil fracassar em um mundo, leia como “estilo de vida”, totalmente em desacordo com sua “natureza”, e, cruelmente, é muito difícil (mas indiscutivelmente necessário) digladiar diariamente contra sua essência em busca de uma vida “digna”.
Para algumas pessoas tudo vai bem quando vai “como sempre”. Férias, Natal, Carnaval, décimo terceiro salário são sinônimos de “cultura e liberdade” para essa grande massa de afetados, porém, indiscutivelmente, mais realizados e “felizes” que pessoas instruídas que levam algumas décadas para aceitar que não é a vida que tem que se adaptar às grandes almas. O inverso é a verdade.
O amor ao saber, sim, a Filosofia, é um grande aliado quando nos vemos obrigados a abrir mão de convicções (nem sempre tão convictas) em nome de uma “felicidade” trivial.
Sentir-se “normal” é o diagnóstico preciso de uma pessoa que, alienadamente ou não, se sente feliz e de acordo com a vida. E é aqui que volto ao que, precisamente, dizia no primeiro parágrafo desse ensaio, hesitar sobre coisa tão importante como seus próximos anos de vida é uma atitude negadora, que pode ter como conseqüência uma vida toda de culpa.
O “foco” (de tão usada ultimamente acho essa palavra muito brega) é, simploriamente falando, o grande segredo do sucesso e da normalidade necessária para sentir-se parte funcional desse grupo.
E quando o grupo é uma família?
Culturalmente e adaptado aos dias de hoje, um grupo familiar é formado por um homem, inevitavelmente, provedor; uma mulher independente e filhos estudantes. E o homem é o único que em nada pode mudar seu papel. O tripé da auto-estima masculina tem como base saúde, afeto e grana, faltando algum desses itens fica fácil cair, e quando o que falta é grana fica fácil ter amputadas as outras duas pernas que mantém sua auto-estima “em pé”.
Você vai hesitar?

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

An meinen Sohn Johan

Sentirás que esse amor é único, não há modismo nem cotidiano capaz de cerrá-lo, não há como trocá-lo, e, fundamentalmente, não há como deixá-lo de lado nem por um único segundo. Embora atarefado, sempre estarás com parte de teus pensamentos nele, mesmo que não percebas.
Dependerás do contato com tua pele, a abstinência de tua presença causará medos, angústias, tremores... Dependerás de sua voz, mesmo que com palavras pouco compreensíveis.
Você jamais será o mesmo, jamais, por mais espiritualmente esclarecido que sejas, fará algo pensando
só em você sem vivenciar um velado sentimento de culpa.
Tentarás ser uma pessoa mais séria, mais adulta. Mesmo com frustrações amiúde, não desistirás.
Não consegues mais imaginar um futuro sem ele sob tuas asas, mas também sabes que esse dia chegará. Viverás o medo da morte que nunca sentira, o medo da dor que nunca o preocupara. Diante de teus olhos, ele crescerá rápido, mas nunca o bastante para tornar-se um adulto. Serás feito de bobo, ou, no mínimo, fingirás apenas para agradá-lo. Perceberás que a educação que lhe parecia tão simples para com terceiros é, sim, um bicho de sete cabeças. Perceberás que dependes muito mais dele do que ele de você. Seja o pai que almejas, ele será teu filho amado de qualquer forma.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Empíricas e Plenas Verdades sobre a Paixão.

A paixão... Que poder exerce sobre nossa essência, não?
A paixão não anda só: amigos fiéis são o ciúme e a carência. Juntos têm o poder de voltar a tempos remotos, de ressuscitar mortos.
Fisiognomistas* chegariam à conclusão de que incuráveis loucos são os apaixonados. Sim, a paixão transforma tua face.
Mas a convivência é uma vacina contra esse mal tão prazeroso, ou melhor: um atenuante. Afinal, o que é o amor se não uma paixão domada, branda, cognitiva? Conversa tola essa de que se quer o amor feliz mesmo que longe. Amor é próximo, é justo. Amor se prova nos almoços, nos telefonemas, na cama... Leniente paixão é o amor.
Inimigas mortais são Solidão e Paixão. Quando no estágio da paixão propriamente dita, antes da suavidade cotidiana, pessoa alguma quer ficar só. Nem por um simples giro do ponteiro grande do relógio, esse que leva séculos pra se completar. Uma pessoa apaixonada quer devorar, gerar e parir seu parceiro.
Mas se a convivência trouxer anexo a brandura o respeito, a Solidão passa a coexistir pacificamente. Sadia solidão essa que traz a certeza do amado sempre por perto.
Em tese: Paixão boa é paixão velha, ou seja: amor.


* Cientistas que estudavam a personalidade de acordo com a fisionomia das pessoas.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Eis Eauton


Sujeito complexo e pétreo, ele mutila sua verdade para disfarçar sua arrogância. Sua busca bem sucedida por conhecimento lhe concede um poder politicamente incorreto, e extremista, de classificar as pessoas como inteligentes ou idiotas. Mas o que é ser politicamente correto? Hipócrita!!! É o que responderia.
Não tolera pessoas tolas, não suporta conversar com pessoas cujas hermenêuticas equivocadas (tontas ou falsas) não permitem a real compreensão de seu discurso.
Odeia quem lhe rouba a solidão e não lhe dá nada em troca. Aliás, nada vale o preço de sua solidão que, em alguns momentos, é seu bem mais precioso.

Sujeito complexo e sensível, ele mutila sua verdade para disfarçar seu amor. Sua busca bem sucedida por conhecimento lhe concede um poder politicamente correto, e justo, de classificar as pessoas como iguais. Mas o que é ser politicamente correto?
Leniência... É o que responderia...

... Ama quem lhe rouba a solidão e lhe dá afeto em troca. Aliás, nada vale o preço da presença de quem, a todo e qualquer instante, é seu bem mais precioso.

“Ecce homo” (Eis o homem): maniqueista sem religião, monstro sem cabeça, anjo sem asas...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Agon


Chovia muito. Eu e Nádia acabávamos de discutir, decidi caminhar...
Minha capa me protegia da chuva, mas não da agonia. Após um hermético encharque, sequei as mãos num lenço, que, por higiene ou algum transtorno, tinha o hábito de carregar dentro de um saco plástico, e saquei meu telefone que, por motivos óbvios, estava em outro.
Liguei para Eugênio, amigo de poucas palavras, mas de muitas letras; disse-lhe que queria me separar e, também, queria sua companhia numa viagem pela América do Sul.
- Não quero.
- Mas por quê?
- Gosto de minha cidade e uma viagem dessas é muito cara.
- E se eu pagar todas as despesas?
- Não.
- Por quê?
- Por que será caro e inócuo para você.
- Como assim???
- Marcos, você pode sair de sua cidade, mas não de você mesmo.
Lembrei-me porque tinha ligado logo pra ele...
Achei que a distância seria o antídoto para toda dúvida que carregava, mas Eugênio logo me persuadiu passivamente. Era um bom amigo. Bom amigo é aquele que, em feitas sérias, fala pouco.
Com a consciência de que eu não evitaria conflitos e sofrimentos, que vivê-los era iminente, sentei-me à guia e fiquei namorando o rio que passava ao rodapé.
Às vezes é pueril procurar o “lado bom” de uma situação ruim, mas não foi assim dessa vez...
Cheguei à conclusão de que o maior instrumento para o crescimento não é o amor, é a agonia.
Conflitos nos fazem decidir; certezas nos paralisam. Perguntas nos movem; respostas, simplesmente, não existem. E fiquei enaltecido quando percebi que o presente é o Deus do cronos, que em um passo eu já tinha vivido passado, presente e futuro, e, inevitavelmente, voltado ao presente.
Sutil torna-se a agonia quando deixamos de imaginar o que será. E o que é, ninguém sabe.
Mais uma vez o acaso se provou onipotente e onipresente.
Voltei para casa.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O outro

Minha solidão fica só quando você se achega de mim. Certas feitas, ela caminha de mansinho em nossa direção; um único olhar ofertado a ti é o bastante para que fiquemos novamente a sós . Eu, você e nós. É, minha flor, nesse momento de desarme, entrego-te a verdade: eu só consigo viver a três. O Nós me fortalece, e sabes que preciso de ti para encontrá-lo. Nunca tinha-o visto até experimentar teu beijo. Ele me permite ser dono de mim, ser eu em minha essência, em minhas verdades torrenciais... Confesso que a Solidão também tem comigo esse zelo, mas com o Nós tudo perde aquele tom acinzentado. Teus seios enlouquecem, teu cheiro entorpece, e ele, o Nós, se faz uma espécie de deus ardentemente desejoso, tranquilizando-se apenas após a explosão de nossos desejos, momento em que desmoronas-te em cima de mim.
Estou feliz por ele estar freqüentando mais as nossas vidas, assim eu consigo ser eu e você, você.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sou

Liberto-me porque conheço o meu poder. Posso ser quem eu quiser: posso ser o sensível pianista, posso ser o forte lutador; posso ser um carinhoso amante, posso ser o cafajeste que as senhoritas odeiam amar... Posso até ser Napoleão, não castro a minha loucura. Minha alma é extensa o bastante para acolher cada um dos meus seres. Sou um ladrão de minhas ideias, mas um bom ladrão, uso-as. Atravesso diariamente uma espécie de ponte circular, sem extremos. Passeio por minhas calmarias e inquietações. Respeito o fato de ser o acidente mais complexo que o acaso criou. Posso ser até mesmo eu.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Protocolo

Com essa mania pela felicidade (que aliás é tola e concretamente falsa: se as pessoas exigissem a “felicidade plena” acima de qualquer coisa, todas viveriam drogadas), as pessoas acabam terceirizando sua própria vida para cumprir o protocolo do afeto. Explico.
É simples explicar o porquê de as redes sociais, principalmente as relacionadas a relacionamentos amorosos, expandirem-se de maneira avassaladora; toda pessoa que quer casar, mesmo sabendo que casamento é uma péssima, ter filhos (e amá-los) mesmo sabendo que é um trabalhão caro criar um ser humano, e cumprir demais protocolos está apenas desesperada pelo desejo de ser “normal”.
A receita é simples e o resultado é um bolo podre que iminentemente vai se esfarelar.
Vamos lá: Você encontra uma pessoa e, mesmo sem desejo algum, projeta sua vida nela. E é claro que nas primeiras semanas essa pessoa provará que é digna de ser para o “resto da vida”. Risadas.
Com o tempo ela se mostra na essência, com razão, pois ninguém aguenta um relacionamento “bonitinho” por muito tempo. Mas aí você já é dependente emocional desse ser, agora ele que é responsável por sua vida (e você pela dele), aí fica aquela “água de salsicha”, uma vida chata, sem espaço para a solidão tão necessária e cheia de guerras para provar quem manda. Mais risadas.
E quem é que manda??? Ninguém!!! “Por que no amor quem perde quase sempre ganha, veja só que coisa estranha, saia dessa se puder” - já dizia o genial Edu Lobo.
Há ainda, em casos mais extremos, os “sanguessugas” - que querem você presente, mas nada fazem pra merecer; roubam tua solidão, mas não lhe dão verdadeira companhia – ato condenado pelo grande filósofo "Nietzsche" – não te enxergam como pessoa, não te ajudam, não se preocupam. Querem um urso de pelúcia que faz sexo e leva café na cama.
Aconselho a leitura de "Quem me roubou de mim", de Fábio de Melo. Essas pessoas são os sequestradores de subjetividades – roubam você de você mesmo, afastando-te do que tem verdadeiro significado em sua vida.
Fica aqui um pouco de meu conhecimento adquirido pela leitura filosófica e mais ainda por minhas dezenas de experiências conjugais. Em especial, a última.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Espécies

Considero uma ignomínia a máxima “Somos todos iguais”.
Concordo que em essência o ser humano, qualquer um deles, é melancólico, carente, medroso e interesseiro, mas fora essas questões acerca do existencialismo existem pessoas inteligentes e também as vazias. Nada tão sonífero quanto um diálogo raso por falta de opção. Como diz uma pessoa por mim muito querida, precisamos de um tempo para amenidades, bobagens; mas são momentos específicos, como que para descansar a mente, uma conversa rasa por opção pode ser uma terapia. Mas voltando à realidade social, cultural e filosófica, pessoas ignorantes me cansam, principalmente as que ocupam altos cargos e formam discípulos à altura.
Pessoas rasas têm significados, ou horizonte de sentido, muito rasteiros. Me irrita a felicidade em que vivem tais pessoas, mas é sabido que só vivem a felicidade justamente por serem toscos e alienáveis; do contrário, saberiam que isso não existe. Não pensar é o único jeito de ser feliz.
O modismo (quase obrigação) de buscar a felicidade é o grande mal da atualidade – pessoas fingem, mais do que nunca, ser o que não são, pessoas buscam o que não lhes tem significado algum, pessoas se culpam por insucessos de que não fazem parte.
Não sou igual esse povo “retardado”, enxergo e assumo todo o sofrimento que é intrínseco ao ser humano, busco bons momentos de maneira operante. Minha esperança é operante, não aguardo graças divinas nem pago contas aqui pra receber após a morte. Em tempo: não acredito em nada disso.
Mas, encerrando meus pessimistas pensamentos (um dos meus filósofos prediletos – Schopenhauer – é considerado o mais pessimista de todos, portanto sou pessimista com muita honra), quero deixar claro que não quero ser feliz, já que isso é ser burro. Prefiro pensar e sofrer.
Não sou uma pedra, muito menos igual aos tolos.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Algumas de minhas melhores citações

"Amor incondicional é falta de opção camuflada"

"Obrigações sagradas são antídotos para frustrações"

"Sonhos finitos, é a vida um milagre efêmero."

"Bons momentos são dissidentes que driblaram a guarda existencial."

"Na simbiose dos corpos, no entrelaçar de braços e pernas, no tempo gasto a dois e, mesmo assim, um sentimento de liberdade. Eis o amor".

“Na verdade qualquer alegria tem uma raiz trágica, afinal tudo é finito”

“Todo amor que nasce da falta de opção é falso e assaz destrutivo”

"Em um passo vivemos passado, presente e futuro, e, inevitavelmente, voltamos ao presente".

"Somos o acidente vivo mais complexo dessa vã existência"

“Chorar por nada e sorrir por tudo só te deixa com aspecto de retardado, o que só te mostra sensível aos olhos de outro”

“É mais fácil ser hipócrita do que assumir e gostar da angústia que inevitavelmente todo ser humano carrega”

“A erudição obrigatória é inócua e tola. Ela é um caminho, não um destino”

“Não condeno as mulheres à condição de reprodutoras e donas de casa, mas confesso que não entendo as que colocam a profissão em primeiro plano e fazem três ou quatro filhos”

“É muito fácil dizer “foi Deus quem quis assim” quando é o filho do vizinho que morre”

“Nada é mais desconfortante para um idiota do que obrigá-lo a pensar e a ter uma opinião não superficial sobre algo”

“Se você quer o bem de seu amor mesmo longe de você, você é um mentiroso ou não ama”

“Se você está empenhado em algo, o otimismo é operante e “enxerga”; se você está na pior e esperando que “energias” vão melhorar sua vida, o otimismo é burrice”

“Algumas pessoas entram em nossas vidas, as melhores irrompem”

“... Ele errou ao não dar-nos pálpebras nos ouvidos”

“Antes de qualquer coisa, somos animais, e animais franzinos cuja única arma é pensar”

“Seja pobre, deprimido e inseguro que acabarás seco ou sozinho”

“Entre dinheiro e segurança, que falte dinheiro – um homem seguro de si exala sensualidade”

“Mulheres, inteligentes ou não, têm a libido ativada ao deparar-se com ideias, a inteligência é para a mulher o que uma anca é para o homem”

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Fluoxetina


Considero engraçada (mentira!) essa mania das pessoas considerarem pessoas tolas e/ou desequilibradas como sensíveis. Como já disse, chorar por nada e sorrir por tudo só te deixa com aspecto de retardado, o que só te mostra sensível aos olhos de outro.
Pra ser realmente “tocado” por algo é necessário um mínimo de conhecimento, é necessário ter ideia própria e, principalmente, um gosto refinado. Do contrário, procure um psiquiatra.
Com base científica, pois alguns dos meus livros de cabeceira (não tenho cabeceira, meus livros ficam no chão) geralmente são científicos, eu afirmo que o conhecimento diminuí o sofrimento e amplia o gozo. Explico: quanto mais você conhece de seus limites ou dos limites humanos em geral, mais fácil fica lidar com impropérios angustiantes como doenças e ou variações emocionais, mas quanto mais você conhece da arte, por exemplo, mais sincero e sadio será seu prazer, ou seja: sua sensibilidade. Uma espécie de conversa entre arte (pergunta) e deleite (resposta).
Se você chora ou sorri adequadamente ao que te cerca, você é uma pessoa sensível; se você não chora nem sorri, você é chato; e se você chora ou sorri à toa, você é um tolo.
Pra terminar, uma frase de Osho (o homem mais perigoso do mundo depois de Jesus Cristo, segundo alguns escritores americanos), que prova que não sou contra viver de maneiras intensa e extrema as nossas sensações (desde que coerentemente aos momento e conhecimento) : “ Se você está sempre do lado esquerdo, você está errado; se você está sempre do lado direito, idem; mas se você está sempre no meio, você está morto.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Não somos todos iguais


Com um ânimo que antecedeu uma imensa frustração, li uma entrevista da psicóloga americana Kristin Neff que, aparentemente inteligente, questionava a necessidade da alta autoestima.
Achei que navegaria pelo niilismo, mas apenas naufraguei em conceitos de religiões orientais.
Nos primeiros parágrafos ela me entreteve, tratou a autoestima como eu costumo tratar a felicidade, como nuance, ou como descreveu o grande escritor, também americano, Michael Keep, “a felicidade é uma emoção em meu fluxo constante de estados de ânimo, que mudam conforme as circunstâncias. Não é um estado de espírito perpétuo”. Mas voltando à psicóloga, toda minha boa esperança de ler um bom texto foi por água abaixo depois que percebi que era mais uma desesperada pela estética que disfarçava suas angústias em conceitos éticos, ou seja: é mais fácil ser hipócrita do que assumir e gostar da angústia que inevitavelmente todo ser humano carrega.
Altruísmo que conforta, risadas. Essa história de ser feliz sendo “feio” me inquieta, sendo “bonito” já é difícil! Mais risadas. Ora bem, ora mal, assim caminhamos, ora bons, ora maus, assim somos. O difícil é se dar bem sendo bom o tempo todo. Sofremos desde o momento de nosso nascimento, saindo do aconchego quentinho do ventre de nossa mãe para um mundo que não nos poupará de dores e desafios. Seja fraco (bonzinho) e sofrerá em dobro: não se dará bem na escola, não se dará bem com as garotas, não se realizará profissionalmente e, caso consiga uma família, será um trapo carregado.
Apesar da aparente digressão que fiz, o texto continua falando de autoestima, essa defendida pela americana, que quer que sejamos “todos iguais”, não é comigo. Sou melhor e pior que muita gente.
Não quero que meu filho seja uma “má pessoa”, por exemplo, mas não o quero poupando forças pra vencer quem ou o que for preciso para seu bem estar. Alguns bonzinhos vão me condenar, coisa que confesso adorar, mas ontem, no parquinho, meu filho dividia seus brinquedos com um recém amigo, achei bonito, claro, aí chegou a hora de ir embora e eu disse “Johan, deixe o patinho para o seu amiguinho brincar” - e ele disse “não, papai, o patinho é meu, preciso levar”. Essa atitude me deu uma enorme segurança quanto ao seu futuro, na hora de brincar é brincadeira, na hora da verdade é coisa séria.
O jogo da vida não é amistoso.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Bares, bailes e eruditos.


Com apoio de Schopenhauer, que desconsiderava a erudição como obrigatória para um bom conhecimento, dissertarei sobre algo que, sem modéstia alguma, entendo. E muito! A música.
Não posso ser hipócrita e dizer que não sou, de alguma forma, erudito; eu usufruí, e muito, dos conhecidos métodos de divisão, solfejo, teorias, técnicas e demais, academicamente, obrigatoriedades, mas, paralelo a isso, eu vivi a música da maneira mais intensa possível: dividindo-a, acompanhada de minha alma, com o público, ou seja: tocando.
Conheço músicos que, em rapidíssimas batidas por minuto, em semifusas, executam, com o virtuosismo de um bailarino russo, uma dificílima peça, porém não arrepiam um homem nu no Alasca. Mas, apesar da improbabilidade preconceituosa que alguns “conhecedores” tecem, já ouvi pessoas simples tocando “peças” pobres, toscas, arrepiarem até pessoas críticas ao extremo como eu. Preciso elucidar que não estou corroborando com a produção de músicas ruins, como é farta aqui em nosso país, apenas estou focando o talento de pessoas que emocionam até mesmo sem recursos. E, quanto à musica clássica, eu amo. Meu filho carrega o nome de “Johan” em homenagem a “Johann Sebastian Bach”, que considero o início e o fim de toda a música. Acho que não preciso dizer que nada tenho contra peças complexas e belas, não?
E, corroborando com minha defesa, é lógico que uma bela peça executada por um talentoso músico emociona muito mais que o exemplo que dei alguns parágrafos acima, quando falei de músicas pobres.
Por motivos particulares, carrego desde minha adolescência uma relação de amor e ódio (que hoje, no máximo da minha maturidade aplicada, considero sinônimos) com a música, mas é fato que sem a música nem sofrer direito é possível.
Digressão à parte, a erudição obrigatória é inócua e tola. Ela é um caminho, não um destino.
Alguns dos maiores nomes da música extra universidade, como Hermeto Pascoal, o gênio dos sons, não conseguem tocar uma música semelhantemente em duas apresentações. A criação é uma constante. E alguns dos maiores nomes do Jazz, como Oscar Peterson, que tocava o repertório clássico de “trás para frente”, nunca deixaram de criar, porém respeitando algumas regras, o que fazia se seu som algo único, ímpar. Eruditamente ou não, creio com muito afinco que a emoção vem da criação. Não entenda “criação” como improviso, necessariamente, mas leia como “Creare” - do latim – que significa fazer, produzir. Trocando em miúdos: é preciso produzir sensações. E, querido colega, espero que você não leve anos de estudo pra perceber que isso só se faz inconscientemente.
Quando digo que não é preciso improvisar, quero dizer que você pode tocar uma peça clássica exatamente como escrita na partitura de maneira única e criadora de sensações jamais sentidas.
Tecnicamente, a dinâmica é a matéria da música que mais causa boas sensações, que fazem seu coração bater em quiálteras. Mas aplique-a de maneira inconsciente, vai se dar melhor.
Um conselho (para os já músicos) que os eruditos vão detestar: leia apenas as notas numa partitura.
Existem várias receitas para se construir um bom músico, mas a melhor é ouvir e tocar. Ouvir boas músicas, bons músicos e, principalmente, os mais velhos, como eu.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Seja ruim para seu filho


Pais ou “responsáveis” bonzinhos costumam sempre dizer “sim” para requisições dos pequenos reis.
É muito menos trabalhoso fazer o que eles querem do que educá-los. Que benção o videogame que os mantém entretidos e enclausurados num quarto afastado do tão desejado silêncio que necessitamos, não? Para que nos alimentarmos juntos se eles podem pegar seu prato e fazer uma lambança invisível aos nossos olhos pela distância? E quanto às birras?!?! É só dizer “sim” que evitamos pequenos espetáculos de loucura simples e pura.
Bom, a verdade é que temos miríades de maneiras de terceirizarmos a educação dos pequenos pestes, inclusive deixando que eles se “auto eduquem” de maneira solitária e virtual.
Mas aprendi que para ser bom para meu filho eu preciso ser ruim, “muito ruim”. Fazê-lo enxergar a vida como um “paraíso de sins” só vai desprepará-lo para o que realmente o espera: o mundo.
Confesso que como todo pai de primeira viagem eu penei para resistir aos olhares sedutores e persuasivos do pequeno Johan Marucco, mas aprendi: é preciso adquirir um certo sadismo, é preciso sentir um leve prazer em fazê-lo “sofrer”. Para o seu crescimento cultural, emocional e social eu viro um monstro.
Se você é um pai mais atento, já percebeu que criança gosta é de limite, elas detestam “bundamolice” - termo que o polêmico e genial “Lobão” usa com frequência – mas para mostrar limites é preciso estar presente não só de corpo, mas de atenção e zelo. Criança adora uma boa briga, principalmente quando ela perde, fazendo com que seu “herói” educador mostre-se mais poderoso ainda. Isso é segurança.
Mas é mais fácil colocá-las em cursos e aulas diversas com o hipócrita pretexto de “preparação”.
Da escolinha, de onde já sai com a barriga cheia, vai para o inglês que antecede o piano que antecede o futebol que antecede seja o que for de “necessário”. Não, queridos amigos, não acho desnecessário propor atividades aos pequenos, mas convenhamos, está demais.
Não condeno as mulheres à condição de reprodutoras e donas de casa, mas confesso que não entendo as que colocam a profissão em primeiro plano e fazem três ou quatro filhos, mas essa conversa vai muito longe, esse texto não é sobre isso exatamente.
Mas quero terminar com um pedido: “perca” um tempinho educando sua prole.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Napoleão


Vítima do acidente de ter nascido, de suas pernas só restavam as dores fantasmas.

Sentado em sua possante cadeira de rodas motorizada, aproveitava o que o acaso não havia lhe tirado e mais o que o mesmo acaso havia lhe dado em fartura: era um homem herdeiro de muitas posses, e, com exceção de duas amputações femorais, era muito saudável e belo.
Não, não foi esse o homem que conheci...
Andávamos eu e um amigo, no terceiro sábado de uma semana tipicamente brasileira, por uma cidadezinha horrorosa, mas muito frequentada por motivos religiosos/comerciais, quando ouvimos berros dizendo “água por um real”, olhei para a frente, para trás e para os lados, mas só achei o gritador quando olhei para baixo; era um tronco com uma cabeça e dois braços debruçado num “skate” que ainda carregava umas garrafinhas.
Farei uma pequena digressão para depois concluir meu pequeno texto: é muito fácil e cômodo atribuir a vida e seus acasos (que bem friamente são sinônimos) a um Deus controlador e enxerido, assim não tem-se a responsabilidade de pensar nem de conhecer a abjeta realidade de que estamos jogados aqui pra nos virarmos e driblar as tocaias que o acaso nos planta ( o acaso não planta nada, todos os infortúnios estão soltos e são levados pelo vento; às vezes já estão dentro de nós em forma de tumores). Quando estamos de fora, fica mais fácil ainda: é muito fácil dizer “foi Deus quem quis assim” quando é o filho do vizinho que morre. Acredito em dois tipos de pessoa: as que atribuem tudo a Deus (cegas, mas autênticas) e as que nada atribuem a Ele. O meio termo retrata a fé de quem não tem fé – coisa chata.
Voltando ao texto... Resiliência ou loucura? Erasmo (1467?-1536) - teólogo Holandês – com seu “Elogio da Loucura” - tratou de forma muito bem humorada e filosófica o papel fundamental que a loucura exerce em nossas vidas. A vida real e prática, não as dos belos sonetos. E acreditando piamente que sem a loucura todos enlouqueceriam, peço ao acaso que minha sanidade vá antes de meu corpo. Aos fofinhos otimistas e bonzinhos: eu não acho que um acidente, uma doença, uma amputação ou qualquer invalidez seja motivo para fecharmos os olhos pra tudo de bom que há na vida, olhem para os atletas paraolímpicos, adoro alguns deles, chego a ser fã; mas a falta de dignidade, sim, é um motivo para enlouquecer e/ou querer morrer. E me perdoem a franqueza: não há dignidade em surfar de bruços num “skate”, com roupas e corpo sujos, vendendo água a um real.
A loucura de Erasmo não seria bem vinda?

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Pessoa Esperta


“Pessoas espertas causam (e adoram isso!) desconfortos em pessoas tolas. Nada é mais desconfortante para um idiota do que obrigá-lo a pensar e a ter uma opinião não superficial sobre algo, e esse desconforto trás uma sensação de poder e “arrogância sadia” para o desconfortante.
Pessoas espertas gostam de serem polemizadas (admiradas, sem falsas modéstia e hipocrisia) e não gostam de passarem despercebidas, o que não quer dizer que não gostam de momentos solitários.
Pessoas espertas gostam quando são tratadas como especiais.”

Depois dessa pequena introdução, quero ir direto ao ponto que me fez “acordar” (não dormi) cedo e escrever.
Sou uma pessoa esperta: não espero nada depois de minha morte (pagar aqui pra receber depois não é coisa de pessoa esperta), não corro atrás de uma felicidade plena que faz com que as pessoas percam o curto tempo que têm de existência de maneira superficial, não me culpo pelo aquecimento global.
Como pessoa esperta eu adoro ser criticado, polemizado, admirado, aplaudido, detestado, querido...
Apenas me incomodo quando sou marginalizado (sempre injustamente, claro – geralmente são pessoas tolas que o fazem) , mas isso já me consumiu bastante ultimamente, prefiro saltar essa parte.
A pessoa esperta que sou não tolera tapinhas amigos nas costas que antecipam comentários pejorativos, atitudes contra o meu bem estar (sempre inócuas) e demais pequenices. Como diz uma amiga, eu “travo” quando insatisfeito com uma presença. Preciso treinar melhor a minha política falsidade. Como pessoa esperta eu abomino a hipocrisia (não me culpo por querer que meu filho, por exemplo, com seu inegável fogo no nariz durma logo).
Como pessoa esperta não cobro nada dos que me cercam: quando insatisfeito, eu abandono o navio.
Você é uma pessoa esperta?

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Papo Cabeça

Lorena, após meu almoço – ao dar o último gole em meu copo d'água que, apesar de insípida, inodora e incolor, saboreio com deleite junto às minhas refeições, ouvi a senhora Celina, vulgarmente conhecida como “minha mãe”, dizer que detesta conflitos. Pedi (implorei) que desenvolvesse.
Ela exemplificou com uma situação que acabávamos de passar, poucos minutos antes desse nosso “papo cabeça” e desenvolveu: meu filho (mentira – ela só me chama de Rodrigo), estou com pena e raiva, fico muito irritada com a situação passada, mas, na mesma proporção, tenho pena de quem se propõe a tal papel, assim fazendo-me assumir um papel de “quiabo”, sem reações nem atitudes, o que faz com que a situação “chata” prolongue-se por horas, sendo assim - trazendo-me mais raiva, sendo assim – trazendo-me mais pena.
Eu entendi muito bem, ela descreveu o que eu sentia. Não sou “bonzinho”, não gosto nem quero ser, e sentir pena de pessoas que se propõe a papéis diminuidores causa-me um outro conflito: liga-me à pessoas bobas e “inocentes”( entre aspas por que acredito que pessoas inocentes são ricas em maldade, só não sabem usá-la – o que as torna piores e mais chatas ainda), tipo de pessoa que abomino e quero a maior distância possível.
Mas onde quero chegar é no fato de que para vivermos e conseguirmos o que (ou quem) queremos, precisamos entender, aceitar e usar a maldade intrínseca à nossa “alma” ao nosso favor. Sem altruísmo hipócrita, sem causar grandes dores e muito menos sem remorso.
Acredito piamente que, como diz meu escritor predileto, Luiz Felipe Pondé, “quem ama quer o amado para si ou que deixe de existir” - é lógico que estou falando do amor entre homens e mulheres, homens e homens, mulheres e mulheres e qualquer outro segmento que trate de casais.
Se você quer o bem de seu amor mesmo longe de você, você é um mentiroso ou não ama.
Portanto, não suporto a chatice de quererem-me bem baseado em “verdadeiro amor”, acho muito pueril, muito infantil, muito chato. Quero apenas meus momentos serenos de solidão, meu momentos felizes ao lado da pessoa que gosto e meus momentos de angústia só ou acompanhado.
Quero minha vida presente.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Agridoce


Operários com uniformes sob medida e sem nenhuma mancha de graxa, pessoas comuns sendo realmente bem atendidas num banco (sorrisinhos amarelos não contam, por isso grafei “realmente”) e famílias felizes venerando um pote de margarina. Tratam, esses exemplos, da idiota realidade falsa que querem nos vender. Governantes (desgovernados), empresários e quem quer também necessite da alienação em massa para o seu ganha-pão. Meus contemporâneos devem se lembrar que fumar um cigarro era como ser livre feito um cowboy vistoso cavalgando sem rumo.
Não estou aqui pra condenar cigarros nem droga alguma, estou aqui para (nada me dá mais prazer na vida) cutucar idiotas. E, apesar de tantas chagas consequentes dessa postura, com apoio de Nietzshe – “Prefiro sofrer pensando do que sorrir sendo uma pedra burra”.
Confesse – você aguenta conviver com uma pessoa que está sempre sorrindo, que é sempre otimista e que acredita no ser humano? Eu não. Pessoas deprimidas me cansam, mas menos que otimistas cegas. Se você está empenhado em algo, o otimismo é operante e “enxerga”; se você está na pior e esperando que “energias” vão melhorar sua vida, o otimismo é burrice.
Em meus momentos existencialistas, acredito que, como uma pedra, apenas existimos. Mas vivemos a angústia disso saber, portanto somos essencialmente “angústia”. Peço que se você for uma pessoa superficial e me achar “pessimista ou deprimido” pelo que está lendo, pare de ler e vá caçar namorados(as) no Orkut.
Deixe-me deixar clara uma coisa: muito me divirto nessa angustiante vida, oquei?
Bom, mas o que me incomoda são pessoas vivendo uma falsa felicidade – chamo de falsa qualquer felicidade que brote da ignorância. Se colocarmos numa balança, a vida nos dá mais dores de cabeça do que gozos, não??? Essa é a chave: a vida não é essa balança – vivendo essas dores potencializamos os gozos, que, se colocados numa balança, pesariam muito mais. A felicidade é viver a vida. Bons e péssimos momentos.
Rodrigo, mas você não disse que apenas existimos?
Disse, sim. Mas não queira que eu em minha humilde sabedoria resolva conflitos de séculos de Filosofia.
Trocando em miúdos: Quero que o sexo que faço seja o mais gostoso, quero que a dor que sinto seja a mais intensa; quero que o pão que como seja o mais macio, quero que a sede que vivo seja a mais seca.
Dessa minha vida quero tudo! E se pouco tiver, quero viver essa angústia.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Boas Cias e Cia.

Desconheço o trivial, o cotidiano. Conheço apenas a verdade.
Algumas pessoas entram em nossas vidas, as melhores irrompem. O acaso, que é minha religião praticada, pode ser bom. Ou não. Mas nessa feita é “persona grata”. Poderia viver algo como “Carpe Diem”, mas como (ainda) não sofro de Alzheimer, prefiro imaginar um futuro agradável.
O filósofo (ah! Também padre) Fábio de Melo trata a “esperança” como ela deve ser tratada – de maneira operante. A espera não te leva a lugar nenhum (se esperar muito, os vermes agradecem), a esperança é você esperar por algo que vai acontecer com seu méritos. Pode ser que a sorte te ajude, mas a sorte tem uma predileção por pessoas bobas. Então, trocando em miúdos, “quer algo/busque” deve ser aplicado sempre, mesmo que sutilmente.
Digressão à parte ( segundo “Schopenhauer” - um bom texto precisa de aspas, parênteses e digressões), eu quero apenas retratar o prazer que tenho em conviver com pessoas especiais, confesso um certo egoísmo (egocentrismo, talvez) pois grande parte desse prazer nasce do fato de pessoas especiais remeterem-me à pessoa especial que sou.
Algumas são artistas que não pintam, não compõem, não dançam nem cantam – ouso dizer que essas pessoas são a arte, não apenas a ferramenta que a cria. Ouvi uma dessas pessoas dizer “não tenho alma de artista”, em meio segundo veio-me a resposta: “és a obra”.
Perdi um primo que era mais que especial num acidente tolo, era a “obra prima” da família – generoso, capaz, inteligente, sensível, assistencialista, bonito – mas se existe um Deus, Ele não deve ser bobo, portanto quer pessoas assim por perto. O mundo é rasteiro demais para uma pessoa tão iluminada. Mas, preparem-se para outra digressão, apesar do clima romântico ter ido pro brejo com computadores, celulares e cia, a tecnologia nos apresenta pessoas que, infelizmente, jamais conheceríamos por conta da humilhante distância. Melhor ainda: torna-nos íntimos de ideias que jamais chegariam até nós. Isso faz-me pensar em até onde a presença carnal é fundamental em nossas vidas. Já aviso que não estou falando de namoro virtual, oquei? Bom, digressões demais deixam o texto incompreensível, voltarei às pessoas especiais, em espécie. Ou melhor: não vou escrever mais nada e aproveitar boas companhias.
Volto...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Destro

Tenho o direito de envelhecer. Acentuando, assim, minhas manias e crenças (ou melhor: descrenças), corroborando, também, com a minha ausente paciência.
Tenho o direito a não suportar a companhia de pessoas superficiais, principalmente as que muito se expressam; tenho o direito de exigir o privilégio de uma solidão cada vez mais presente, tenho o direito a diálogos de palavras poucas e risadas em volumes de médio para baixo.
Tenho o direito de achar que Ele errou ao não dar-nos pálpebras nos ouvidos.
Sem nostalgia nem nada parecido com “arrogância concedida” (se bem que tenho esse direito), afirmo que, apesar de todo o fácil acesso às informações, as pessoas, as jovens, principalmente, estão cada vez mais idiotas. Psicologias de botequim somadas à filosofias de “Ti Ti Ti” causam-me uma irreversível azia. Assim como a opinião formada sobre tudo das pessoas que nos enchem de pedidos de músicas de Raul Seixas.
Digressão à parte, tenho o direito a ausência de pessoas que me desagradam, coisa entre oitenta e noventa por cento dos que me cercam.
Intimidades à parte, tenho o direito de não gostar de palavras chatas na hora do sexo. Muito menos de malabarismos pueris que me causam vontade de rir e mais nada (se bem que às vezes sinto vergonha e dó, pois me excitam tanto quanto uma folha de alface). Tenho direito de gostar do bom e velho sexo de beijos e pegadas fortes, simples, mas que estremece as pernas. Gosto de sexo justo, próximo.
Ah! Tenho o direito a dizer “não” quando alguém quer ler a “palavra de Deus” na porta de casa num sábado às oito da manhã.
Estava com saudade dos meus textos – tenho esse direito.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A Bexiga e a Morte


Era bem cedo, o Sol ainda espreguiçava. Dentre as inúmeras vezes que minha pueril bexiga me obriga a ir ao banheiro, essa parecia especial, uma espécie de providência. Liguei o celular que desligo ao deitar para não ser incomodado em meu tão aguardado sono esquizofrênico, momento em que a loucura me é permitida, lugar onde só preciso sentir, onde as coisas só acontecem, independente de meus “valores morais” que foram tatuados em um ego que me é quase um desconhecido. Mas dessa vez o liguei. Depois de quatro segundos que pareceram séculos, eis que surge o aviso de que chegara-me uma mensagem. Tive medo de ter medo e estar certo, tive medo de me animar e estar errado. Àquela hora da manhã era utópico querer reprimir pensamentos trágicos, a morte anda de mãos dadas com as primeiras horas do dia, infelizmente sabia bem disso. Inúmeros protagonistas banharam-se em sangue nesse filme “trash” em que se transformou minha preocupada imaginação, minha garganta já estava em nós feito queijo de saquinho. Tentei exortar bons pensamentos a essa vil sensação de saber sem saber, mas de nada adiantou: acontecera algo muito ruim, pouco tempo depois de receber o aviso, já me era fato. Mas quem morreu? Como?
Com as mãos trêmulas era impossível acessar tal conteúdo, e quanto mais eu pensava, mais minhas mãos vibravam, era a defesa que meu cérebro cedia gentilmente à minha alma.
Mas era hora de eu ser útil, precisava saber o que acontecera para tomar providências fúnebres/práticas, sabia que deveria ser eu o responsável por esse morto sem nome, sem face e sem anunciada morte que já me tirava lágrimas dos olhos e anos de vida.
Como um gago que segura o ar para atirar uma frase inteira, eu enchi meus pulmões e apertei o botão que me revelaria o parceiro da morte naquela viagem matutina. É verdade que levei muito mais tempo para abrir os olhos, mas, feito, acabei com minha dúvida:
“- Aproveite para falar com quem você gosta por apenas R$ 0,25.”
Urinei e voltei a dormir.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Feminina Sabedoria


Somos os únicos animais dotados de razão: somos inteligentes, pensamos e temos uma maneira prática e eficiente de comunicação. Mas é só: somos pequenos, ouvimos mal, enxergamos pior, não voamos, não temos força no maxilar, somos lentos e nosso instinto é ínfimo. Há algum tempo éramos o almoço de animais irracionais. Sim, sou Darwinista antes de qualquer outro rótulo que queiram me pregar, e como tal falarei.

Acredito piamente que a causa de muitas angústias, depressões e inseguranças seja o medo. Antes de qualquer coisa, somos animais, e animais franzinos cuja única arma é pensar. A consciência dessa fraqueza nos atormenta, como sempre foi. Mas o fato é que pensar foi muito mais eficaz que força e /ou “superpoderes”, nossos antepassados (principalmente as mulheres) colocaram-nos no topo da cadeia alimentar com uma poderosíssima estratégia: a seleção. Machos fracos, medrosos e incapazes eram descartados, reproduzir era somente para os “campeões”.

Mas isso tudo foi só pra poder me dar base para o que realmente quero escrever, as mulheres insuportáveis conhecidas como “fanáticas feministas”. Não coincidentemente li um texto, hoje, de Luis Felipe Pondé que falava do mesmo assunto.

Acho lindo ver o mundo profissional recheado de mulheres, primeiramente pela estética dos ambientes (já disse que sou um animal) e depois pelo sucesso que obtiveram depois de anos de repressão, sofrimentos e lutas. As mulheres são muito mais capazes que nós homens em muitas (leia muitíssimas) funções e situações, fico feliz por terem, depois de digladiarem contra o mundo, conseguido reconhecimento e a partir dele o espaço que conseguiram. O que não me deixa feliz é o ódio que algumas “radicais” trazem em seus discursos. Mas como a maior parte delas é composta por mulheres feias e mal humoradas, não dou tanta importância assim. Algumas delas acham que um batom na boca é uma ofensa ao “movimento”, risadas. Essas querem que as mulheres virem homens, não vejo vantagem nisso. Como é sensual uma mulher bem cuidada dando ordens, expondo ideias, resolvendo grandes problemas... É gratificante você olhar pra uma mulher e saber que ela não depende de você – já aviso que não se trata de “muquiranisse” e sim de admiração. Mas meu amigo, não entenda isso como um “não quero depender de você”, elas vão sempre querer que você abra a porta do carro, troque a lâmpada e pague a conta. Seja pobre, deprimido e inseguro que acabarás seco ou sozinho. As mulheres sabem, como nenhuma outra espécie, selecionar. As mulheres realmente feministas (as que gostam de homens, são carentes assumidas de afeto e são emancipadas) sabem mais ainda.

Se você tem dinheiro, é bem resolvido e seguro de si vai se dar bem entre elas, a menos que não queira; mas entre dinheiro e segurança, que falte dinheiro – um homem seguro de si exala sensualidade. Como já disse em outro texto, as mulheres erotizam a inteligência, você não precisa ser rico nem bonito (claro que vai dar mais trabalho) pra ser desejado. Ainda temos o “Cronos” como vantagem: perecemos mais paulatinamente, o que nos dá um vasto “repertório de idades” pra “trabalharmos” nossos afetos. Mulheres, inteligentes ou não, têm a libido ativada ao deparar-se com ideias, a inteligência é para a mulher o que uma anca é para o homem. Sábias mulheres. Confesso que como homem me enquadro nessa afirmação, mas do mesmo jeito que a beleza atrai um homem, a vazies espanta. Nem os homens burros querem burras mulheres.

Gostaria de terminar esse texto ofendendo as chatas e neuróticas “radicais”, mas vou elogiar as independentes, bem arrumadas e carentes afetivas (as normais) mulheres que tanto me fascinam:


Meu amor, meu amor – nunca te ausentes de mim - para que eu viva em paz, para que eu não sofra mais - tanta mágoa há sim - num mundo sem você.”


Sem Você – Tom Jobim e Vinícius de Moraes.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Nossos Filhos

Sua graça era João, menino questionador desde sua ínfima pequenez de raciocínio.
Tinha como pais pessoas antônimas: um pai artista, talentoso pintor; uma mãe belíssima, porém de poucos planos emancipadores. Herdara a beleza da mãe e a veia artística de seu pai, sintomas que, várias feitas, preocupavam seu amante provedor. Homem culto e experiente, sabia que da inteligência viriam miríades de sofrimentos, mas como desejar que um filho seja “feliz” sendo uma pedra burra?
Abraçado em seu Ser, esse homem parou e olhou, com muita calma, para esse menino na tentativa de amputar qualquer sentimento egóico* (que nasce de pensamentos) que pudesse nublar suas observações. Conseguiu.
Com um contido orgulho começou a ajudar na lapidação desses talentos intrínsecos à alma desse pequeno ser. João, embora nada soubesse da tão complexa língua portuguesa, abraçava livros e era muito feliz nas histórias que criava baseado apenas nas coloridas figuras de praxe em livros infantis; era engraçado e emocionante o fato dos personagens serem homônimos aos seus queridos familiares.
Não demorou a se interessar pelas cores em que seu pai tanto se empenhava, e com apoio e carinho começou com suas primeiras lambanças pinceladas. Decepcionantes de início, mas que foram mostrando-se fortes, intensas e únicas, fazendo brotar lágrimas de orgulho e resignação de seu experiente responsável.
Jorge, seu pai, quimerista como só, perdeu muitos membros do “corpo da alma” amputados na guerra contra a alienação, infelizmente exigida para se sobreviver “em paz” nos dias atuais. Sua vida era uma colcha de retalhos, costurada assimetricamente com farrapos de tecidos que foram bons e maus momentos vividos. Sabia o que esperava por João, e pior: o que João não esperava.
Mas faz parte do ego (o que pensamos que somos) querer proteger a cria, o que se trata até de egoísmo, pois para teu pai era o sofrimento que dava o mínimo de sentido à vida; não essa “mania de felicidade” que cega e emburrece.
Nessa filosofia continuou com seus ensinamentos, ou melhor: com a lapidação.
Mostrou que virtudes nascem da guerra contra os vícios, que não é da natureza humana ser bom. Pra ser generoso, João travaria inúmeras guerras contra o egoísmo, por exemplo. Mas havia necessidade de “calibrar” todo talento e conhecimento com a vida prática, coisa que Jorge só aprendeu depois de velho, mas não seria assim com João. Estudar era preciso, embora seja explícito que o ensino contemporâneo não traria conhecimento (leia como “sabedoria”) pra ninguém, uma selva de pedra estava pronta para recebe-lo. Missão nada fácil, não é simples domar a alma de um artista, e sua responsabilidade de pai exigia.
Feito o que precisava ser feito, com muito suor (principalmente da parte de Jorge) João era um homem “pronto” (alguém está pronto?) para o mundo, foi-lhe concedido o poder de decidir sobre teus rumos, mesmo por que “preparado” estava física, neurológica e emocionalmente. Jorge sabia que um olhar é como um abraço mais amplo, e os horizontes de João só viriam a aumentar.
Certa manhã, bem cedinho, Jorge vira teu filho terminar de arrumar o cabelo, ajeitar o colarinho e parar na porta esperando um beijo, esse que recebeu em sua testa antes de virar as costas e sair caminhando com uma pasta na mão. Com um breve sorriso Jorge fecha a porta e se pergunta aliviado “E agora, João?.”
Rodrigo Marucco


* Termo informal usado por alguns escritores que de forma não erudita estudam a “consciência”.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Marucco - O Rodrigo.

Sou pessoa simples, meu palácio se resume a um colchão, livros, um ventilador e uma pequena televisão que raramente é ligada. Gosto de comida simples, comida cheirosa que encobre boa parte do prato e que me dá vontade de repetir. Gosto de roupas que me fazem sentir bem, não pago caro por elas. Gosto de ver minha família reunida em comemorações, e sinto que durante esses instantes a felicidade existe.
Converso com meus cães e banho-os no mesmo chuveiro em que eu.
O que tenho de sofisticado é minha alma, sofisticação que alimento com boas leituras e principalmente com meus conflitos. Não vejo luxo algum nas boas e caras viagens que fui obrigado a fazer pelo meu antigo ofício; muito menos nos hotéis “inacessíveis financeiramente” (eufemismo para “muito caros”) em que fui obrigado a pousar. Confesso que sinto-me muito bem com um condicionador de ar ligado, mas pelo custo/benefício, quando eu sou o responsável pela conta, fico com o bom, barulhento e velho ventilador que me acompanha.
Como pessoa simples gosto de conviver com pessoas simples, sem frescura. É engano achar que pessoas simples são vazias. Conheço muita gente “sofisticada” que tem os conteúdos cultural, espiritual e emocional de uma bexiga. Mas, como fui obrigado a enfrentar muitos “almoços e jantares inteligentes”, fazem parte de minha vida. Hoje estou levando a pacata vida que tanto gosto na minha cidade natal (confesso que o ócio que vivi até me ajeitar aqui foi “impiedoso”) e acho que financeiramente vou prosperar, o que não precisa ser em grandes proporções – o que me falta e custa dinheiro não é tão caro assim.
Sinto falta de uma pessoa ao meu lado na hora de rir; chorar eu gosto de fazer só. Como pessoa simples gostaria de estar noivo há mais de dez anos e pensando na união conjugal, mas minha sofisticada alma muitas vezes conflita com a pessoa simples que sou, casamento é um dos principais gatilhos desses conflitos.
Sou pessoa simples de alma refinada, sou condenado a ser livre.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A alegria é perecível

Vivo minha vida como acho que devo viver: percorrendo constantemente o longo caminho entre os extremos da arte e do ceticismo. Esse caminho é muito doloroso, mas, como um beliscão, essa dor prova-me que não estou dormindo nem, muito menos, morto.
A arte, mesmo quando aparentemente “alegre”, traz raízes trágicas. Na verdade qualquer alegria tem uma raiz trágica, afinal tudo é finito. Um amor, por exemplo, tão belo, tão “feliz” e já traz intrínseco o teu fim. Seja por conta da morte, seja por conta do fim do afeto, seja por consequências sociais, o fim é a única certeza cravada nesse sentimento.
Sinto-me muito bem ao ouvir a maravilhosa obra de Chico Buarque, mas também sinto-me muito bem ao ser jogado aos tubarões pelas obras de Schopenhauer e Nietzsche. Sem falar do genial Nelson Rodrigues. Hoje em dia, quem me cutuca com a espada na prancha é Luis Felipe Pondé, que não por acaso também é discípulo desses três que citei e mais um monte de pensadores “céticos e/ou trágicos”, mesmo por que seu conhecimento é muito maios vasto que o meu, humildemente falando. Acho maravilhosa a frase de Pondé que diz que “o homem é um animal que carrega o cadáver nas costas o tempo todo”. Somos cientes de nosso fim, mas antes ou junto chegará o fim do que amamos e/ou nos faz bem. Por que tanta preocupação com nossos filhos? É medo do fim! O fim de sua saúde, o fim de tua consciência, o fim dos movimentos do teu corpo, o fim de sua vida.
Se tudo é finito, qual o sentido da vida? Aí entra meu trágico ceticismo: não há sentido algum.
Mas, como já disse, sinto-me muito bem ao ouvir Chico Buarque.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Um Artista

Você sabe qual a necessidade básica de um artista? Não, não falo das fisiológicas.
Você vai responder, por exemplo, o “aplauso” - e eu digo que não: o prazer de um aplauso é muito parecido (se não idêntico) ao do gozo sexual (bom, mas breve). Você pode arriscar, também, a responder que é o “reconhecimento” - mais uma vez digo que não. Sem mais te deixar curioso, eu repondo que o que supre o artista é a solidão. Mas preciso esclarecer uma coisa: tocar um instrumento, pintar um quadro, encenar peças... Nada disso quer dizer que trata-se de um artista; pra um desses, esses talentos são algo parecido com uma “maldição”. O niilismo é parte fundamental da formação da “alma” de um desses condenados. Se você conhece uma pessoa descrente de quase tudo, inteligente, solitária (geralmente considera que a sociedade não é compatível a ela) e que, ainda por cima, toca um instrumento ou faz alguma bobagem talentosa – cuidado!!! Pode estar perto de um artista.
A sensibilidade extremamente acentuada faz deles “fracos” perante o mundo. A força vem da prática; não do pensamento. Se você é um imbecil que consegue fazer coisas repetidas exaustivamente, parabéns! É bem provável que tenhas sucesso na vida. Agora se a sua natureza é mais “filosófica”, tenho pena de você. Podes amargar uma solidão crônica, definhadora e que, junto a velhice, te deixa mais feio e com olheiras. Não estou me contradizendo, senhor leitor, trata-se apenas do fato de que “vez ou outra” uma pessoa “normal” (otimistas, credo) quer ficar só; com um artista é diferente: “vez ou outra” ele quer distância da solidão. Mas passa rápido, a vida prática faz-nos perceber muito rápido que precisamos ficar sós. Essa ira discretamente contida em minhas palavras também é coisa de gente que se vê perdida num deserto escuro e, ao invés de areia, coberto de cimento. Adoro a frase “tem alguma coisa errada”, risadas. Não está nada errado. É só o “sentido da vida”, esse que fez muitos enlouquecerem procurando e não encontrando – se bem que depois de louco deve haver algum sentido na vida. Mas, ainda, não enlouqueci. Estou aqui vivendo minha amada solidão, mas confesso que me deu um surto (breve) de querer uma boa companhia. Um bom vinho, talvez.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Eu bebo , sim.

É com muita honra que escrevo meu primeiro “post” embriagado. Afinal, dominarmos nossos sentidos e controlarmos nossos desejos não é coerente com a filosofia que eu admiro: a filosofia do afeto ou da falta de.
Já cansei de dizer (baseado em Pondé) que vivemos sobre um tripé cujas pernas são grana, saúde e afeto; mas como no meio literário não sou ninguém, preciso repetir-me exaustivamente.
Sou homem, gosto de mulheres que gostam de homens; emancipadas (termo grotesco) ou não. Como diz um dos meus filósofos prediletos “ a vantagem da emancipação das mulheres é podermos largá-las à própria sorte sem remorso ou obrigações”. Mas eu quero minhas obrigações, mesmo com as mulheres que odeiam (mas desejam ardentemente) os homens.
São anos de restrições e culturas conjugais pregadas em minha mente, sinto muito (mentira).
O afeto continua o mesmo, dependemos uns dos outros. Homens com mulheres; homens com homens; mulheres com mulheres; homens com bichos; etc. A filosofia do afeto continua a ser a perna principal desse tripé maluco. Por mais materialista e/ou capitalista que você seja, jamais será feliz sem afeto. Mesmo com muita grana e saúde. Eu quero grana e saúde, ok? Bom, mas essa história de “dependência” nos remete à atitudes condenáveis. Risadas. Um jogador milionário e que tem a mulher que desejar pode querer um travesti. O afeto é inevitavelmente ligado ao desejo, breve ou não. Bom, vou abrir outra garrafa. Até a próxima. Se não gosta de ler textos etílicos, vá à igreja.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Louco Protagonista


Somos atores, nosso palco é o que chamamos de “Sociedade”. Somos encarcerados num cenário escuro e frio, somo mentirosos, dissimulados, omitimos bons e maus sentimentos. Fingimos, em resumo. Não sou hipócrita, nunca fui, se escondemos algo (um amor, uma tara, uma alegria, uma tristeza), mentimos. E é essa mentira que faz o mundo “funcionar” - temos leis, temos famílias, temos muitos palpiteiros e precisamos agradar a todos e a nós mesmos paralelamente. Não estou me excluindo dessa seita de mentirosos, mas confesso que tento ser eu mesmo durante o maior tempo possível. Enfrento muita ira, muito preconceito, muitas inimizades (principalmente dos inimigos disfarçados de amigos), e também, muitas vezes, sou tratado como uma joia luxuosa e rara que só pode ser usada em situações muito especiais. Mas isso tudo é por que penso, é por que sou inteligente e como disse: não sou hipócrita. E como meu odômetro está com quase 33 “a idade de cristo” (ainda tenho que ouvir isso, mereço), minha paciência diminui na mesma proporção em que a idade aumenta. Acho que meu fim será ser socialmente um “louco”, mas como assim foi com os grandes pensadores, não me importo muito com isso. Arrogante, eu? Sou, sim – muito obrigado.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Quer viver?


Passei muito tempo desacreditando na “salvação” do mundo; ainda não acredito, não se anime.
Não é de nossa essência o bem nem o mal, mesmo por que isso é inevitavelmente ligado à culturas e costumes locais. E a religiões e/ou seitas (ou coisas parecidas), claro.
Dizem que “Osho” é o homem mais perigoso da história depois de Jesus Cristo, e é, se você se sente em casa nas religiões cujo o “marketing” maior são as restrições pra alcançar algo maior em outro plano. O que “Osho” condena é um simples comércio: dão-te a culpa e vendem-te a “cura”, o perdão. Não sou ateu, não quero fazer-te ateu e muito menos fazer-me ateu, mas quando paramos para ao menos tentar pensar profundamente na existência (pensar não é pra todos, lembrem-se disso) acabamos por passar algum momentos no niilismo. Acredito em Deus, mas como você e como todos os que dizem que sabem (os líderes religiosos superficiais, por exemplo), eu não faço a menor ideia de pra que serve isso tudo, esse aglomerado de massas, sentimentos e loucuras a que chamam de vida. Dizem que devemos plantar algo pra colhermos a felicidade. Acho que nem meu filho de três anos cai nessa, hoje. Que felicidade? A vida é instável, como diz o grande filósofo e padre Fábio de Melo. Que planejemos momentos felizes, aí sim. Qual o problema de programar-se e poupar dinheiro para uma viagem de fim de ano? Mas será que chegarei ao fim do ano? Risadas.
Essa instabilidade da vida pode ser indireta., por exemplo: você tem sua viagem paga, roupas bonitas, uma boa câmera fotográfica, etc – aí no meio desse plano alguém que você ama adoece ou morre. E agora??? Tens dinheiro, saúde(só a sua não basta) e um afeto destruído por um câncer ou seja lá qual das inúmeras maneiras que a morte tem de nos humilhar; Felicidade foi-se embora...
Somos uma engrenagem principalmente de afetos, não nos interessa apenas nosso bem estar, assim como nos interessa o mal estar de muitos. Não é o mundo que nos corrompe e que nos faz infelizes. Somos o nosso próprio câncer e o que faz a felicidade ser uma utopia é, muito contraditoriamente, o amor. Seja o próprio ou não. Você imagina o que é perder um filho? Eu tenho medo até de pensar nisso. Quanto mais amor e afeto, maior o risco de sofrimento; mas sem amor, afeto, saúde e dinheiro não conseguimos nem mantermo-nos em pé (considere que você é a tua autoestima).
Sei que Deus teve um trabalhão pra fazer isso tudo, mas muito maior é o trabalho de compreendê-lo. Tente e enlouqueça; ou não tente e viva como uma pedra burra.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Quer ser um quiabo???

Buscar a felicidade é idiotice: ela é feérica, qualquer adulto não retardado sabe disso.
Porém, mais idiotice ainda é não procurar ou buscar momentos felizes. Bons momentos, pra que eu não caia em contradição. Essa conversa superficial de “Carpe Diem” é coisa pra incompetente e/ou depressivo crônico, que não conseguem realizar o que gostariam. Claro que devemos buscar e batalhar por algo que nos deixe realizados; geralmente bons momentos vêm com afeto ou com dinheiro, mas nem um nem outro vão manter-te inabalavelmente bem – seja por tragédias pessoais, globais ou mesmo por algum mal funcionamento neurológico/emocional - passageiros ou não, você vai cair uma hora, tenha certeza.
Viver o simples “agora” é coisa de quem sofre de “Alzheimer” ou para um quiabo ou coisa parecida. Lembrarmos o passado e pensar num futuro é tão vital quanto viver o presente. Uma mordida num lanche que lembre o que comemos quando pequenos – e era preparado por alguém que nos amava e/ou que amávamos – é um gatilho que nos faz muito bem, mesmo sem percebermos. Nossa memória é um arsenal de alegrias, frustrações e tristezas, por isso vivo dizendo que devemos viver tudo o que for possível: passado, presente e um provável futuro. Se uma das possíveis razões da existência é vivenciar bons momentos, façamos, então; assim como os ruins que a vida nos enfia goela abaixo. Quer determinado carro - coisa que vai te fazer “feliz” - compre-o. É lógico, se tiver grana e peito pra se afundar em prestações. Mas se essas prestações vão te fazer mais mal que o prazer de tê-lo, aí é matemático e somente problema seu. Suas experiências podem dar-te respostas pra questões que envolvam futuro.
Aí, caro amigo, você decide. Ser feliz é impossível, mas se fosse real, eu correria disso. Se existisse felicidade plena, aí sim, a nossa existência não faria sentido algum. Em tempo: não estou dizendo que faz.

domingo, 27 de março de 2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

Passa

Momentos felizes são inevitavelmente ligados à alta autoestima, se sentir bem é estar feliz, simples.
O que não é nada fácil é manter a autoestima em seu polo “up” por muito tempo. Básica e diretamente, sustentamos o que achamos de nós mesmos em um tripé que se mantém em pé com grana, afeto e saúde. Se um faltar, entramos inevitavelmente no inferno da baixa autoestima, ficamos “tristes. A efemeridade da saúde já nos descompassa naturalmente, por mais que não olhemos pra trás, sentimos o peso do nosso próprio cadáver nas costas. Com o afeto vem o medo de perdê-lo, e com dinheiro você nunca terá certeza de afetos sinceros. Sou austero em minha opinião sobre a inexistência da felicidade também por conta desse custo/malefício.
A vida, tirana como normalmente é, raramente permite esse tripé em uma só pessoa, também por isso dependuramo-nos uns nos outros. Geralmente como casais.
É mais tranquilo acreditar que pode-se ser feliz e pronto, mas, infelizmente, penso e compreendo a necessidade de traumas, angústias, depressões, neuras e cia limitada.
Acho irritante a mania que alguns têm de serem “bonzinhos” para serem “recompensados”, sendo assim, sofrendo menos. Não se preocupe: pessoas boas sofrem, pessoas más, também; heterossexuais sofrem, gays, também. Se esperar justiça da vida só conseguirá é sofrer mais. Isso é burrice. E se há um Deus, como acredito, ele tem mais com o que se ocupar além de suas frescuras.
Viva sua vida tentando fazer o que gosta, com quem gosta e comprando o que gosta. Se sua vida for na maior parte do tempo “ruim”, relaxe: ela é bem curta. E se for na maior parte do tempo “boa”, se danou: ela é muito curta.

sábado, 19 de março de 2011

Ritos sem Mitos

Conclusão preventiva sobre a síndrome da altíssima auto-estima: "Quando estiveres prestes a humilhar alguém, lembre-se que és recheada de bosta feito qualquer outro."

sábado, 12 de março de 2011

Feliz dia da mulher

Ouvi um amigo poeta declamar “O Diabo veste verde, usa saia e beija bem” cerrando assim seu poema. Por tratar-se de um homem vivido, estudado e sensível, ficou explícita a analogia com uma mulher, uma das que desejou e teve ou apenas desejou . Aposto na primeira alternativa.
Com a chamada “Revolução Feminista”, alguns clichês mudaram de gênero: hoje é o homem quem espera o príncipe encantado, quem quer se casar e, mais ainda, quem quer encontrar alguém que queira se casar. Nessa tal “revolução”, a primeira lei é que a mulher não pode ser mulher: não pode ser carente de afeto, não pode ser sensível e muito menos amar um homem. É a velha história do sapo com o escorpião (se você não conhece, muito sinto, não estou afim de escrever agora), onde mostra-se a idiotice que é lutar contra sua “natureza”.
Mas como essas “radicais” geralmente são horrorosas e burras (pois é, mas julgam-se geniais e revolucionárias), não importo-me muito. Imagino o vazio existencial de uma mulher que “odeia” homens, no fundo tenho pena (mentira). Privar-se de companheirismo, sexo saudável, carinho e infinitos momentos de vida realmente vivida faz de uma mulher uma pessoa mais forte? Não. Assim como não faz bem não viver intensamente o ciúme, as neuras e as breves separações. É disso que o genial Nelson Rodrigues fala quando diz que “ nem toda mulher gosta de apanhar, só as normais”. Pra decepção dessas loucas extremistas, não é de violência que ele está falando – o único tapa na cara é a certeza de que as mulheres dependem dos homens, assim como eles delas.
Mas, como disse certa feita meu lido e estimado Luis Felipe Pondé, essas doidas estão mais preocupadas em apropriarem-se de nossos prestobarbas. Que final crasso para uma revolução, não? (risadas)
Bom, mas só escrevi para parabenizar as mulheres que como a minha amam um homem e por eles são amadas. O meu Diabo beija muito bem, mas prefiro-o sem roupa alguma.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Quem não procura, se acha

Não há mal algum em você se julgar melhor que alguém, muitas vezes você é mesmo.
Se você lê, você é mais culto que a maioria, se você é um artista, é mais sensível que a maioria, se você malha, é mais bonito...
Essa consciência faz de você uma pessoa agradável e humilde, só os “problemáticos” gostam de humilhar as pessoas. Se você é bem resolvido e conhece seu potencial, é muito mais fácil lidar com as diferenças. Costumo dizer que não me acho; tenho-me certeza. Uma postura arrogante é a maior prova de que alguém é inseguro e frustrado. E pode ter certeza, o mundo está cheio de pessoas bonitas, ricas, bem sucedidas, mas frustradas.
Paradoxalmente, pessoas boazinhas demais também o são, mas isso eu deixo pra outro texto.
Meu pai era um homem muito bom, era provedor e vivia em função da família, mas era muito mal resolvido. Há explicação: quando eu fiz terapia soube de horrores vividos por ele na infância, pois minha psicóloga era sua vizinha quando criança.
Bom, mas como ele era muito político, sempre tinha um cargo de presidente aqui, diretor ali e consequentemente tinha subalternos. Pobres... Humilhação era uma constante, choravam de ódio e tristeza paralelamente.
Mas garanto, com toda cultura e conhecimento que venho galgando há 32 anos, era um homem bom. Digo era, mas ele ainda vive, apenas desapareceu num domingo qualquer há alguns anos atrás. Teve seus motivos. Eu tento ser, como já disse em outro texto nesse blog, um “camaleão cultural” – tento me adaptar às condições de conhecimento e sensibilidade dos ambientes que freqüento, e, cá entre nós: muitas vezes são bem escassos.
Quem me conhece superficialmente, geralmente gosta de mim; mas quem me conhece de verdade me ama ou me odeia. Tenho uma opinião formada sobre vários temas “horripilantes” da vida, isso muito incomoda. Como a maioria de pessoas inteligentes, tenho muito mais dúvidas que certezas, mas das poucas certezas que tenho sou um guardião inflexível. Tenho um defeito muito chamativo para os dias de hoje: não sei fazer média, não sei puxar saco.
É lógico que não vou impor meus pensamentos em ambientes em que pouco se pensa, assim vou estar sendo arrogante e estarei perdendo tempo, e se for pra perder tempo, que seja com pessoas que realmente me importam.
Mas pra conseguir viver assim, sem jogar tuas certezas na cara de todos a torto e direito, é preciso estar bem resolvido. Adoro a maneira com Luis Felipe Pondé escreve: jogando tuas verdade na cara dos leitores, mas lê quem quer, não??? Geralmente são pessoas cultas que leem e, principalmente, entendem seus textos. Então é guerra de igual pra igual.
Quero terminar esse texto indicando seu último texto escrito na Folha de São Paulo que tem um título, digamos, peculiar: “Deus me livre de ser feliz”. Boa leitura.

sexta-feira, 4 de março de 2011

"Desinterpretação"

Alguém me disse, certa feita, que o microfone tem muito mais poder que a bomba nuclear. Concordo.
A palavra em si detém muita força, ela pode afagar ou despedaçar, erguer ou destruir, iniciar ou acabar.
Nesses tempos de comunicação “cega” em cujos vivemos, onde não vemos as expressões de quem conosco interage, não se ouve as mudanças respiratórias de quem está do outro lado, nem se sabe a que real distância ela se encontra é inevitável que ocorram erros de transmissão ou interpretação de ideias.
O bom humor passa a ser um risco enorme numa conversa virtual, podendo vir a ofender, mesmo que esse sentimento de ofensa seja tão injusto quanto um câncer infantil.
Quando estamos diante de alguém, palavras e gestos (bem colocados) “obscenos” podem soar como brincadeirinha de criança, basta um pouquinho de espirituosidade de quem recebe e um pouco de técnica de quem transmite, mas como fazer uma interpretação correta num bate papo virtual?
Conhecer bem quem vos fala já é um grande passo; acreditar nessa pessoa, outro. Mas o essencial é você acreditar na “imagem” que você mesmo faz de seu "interlocutor", somado a um mínimo ( por mais trágico que seja o assunto) de bom humor.
Gosto muito de escrever e sou muito seguro do que escrevo, mas aqui, por exemplo, tenho tempo de reler e pensar se alguma palavra vai ser mal interpretada e ofender alguém desnecessariamente; muitas vezes é necessária essa ofensa. Mas num bate papo “dinâmico” não temos tempos de “consertar” (entre aspas por que acho estranho consertar o que não está estragado) uma ideia, ou melhor, a maneira com que a passamos. Portanto, queridos amigos, conversem comigo “online” quando estiverem de coração aberto e com uma imagem real de mim.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Ensaio (baseado em experiências de Mayr, Marucco e Azevedo)

São José dos Campos, alguns anos atrás. Uma pergunta rondava os múltiplos metros quadrados da casa mais “cheirando a arte” que já conheci. Fantasmas talentosos e frustrados dividiam os largos espaços entre os pianos com a gente. Quanto a tal pergunta, era algo como “O que fazer de minha vida?” Respostas fáceis brotariam como matinhos entre paralelepípedos das mentes de pessoas superficiais, mas não era o caso dos (vivos ou mortos) que lá habitavam. Mas também não sei dizer o que pensavam os que me cercavam ou mesmo o talentoso que vivia a se perguntar sobre a manutenção do “futuro”. Apenas sei que minhas respostas eram consequentes indagações: “Há o que se fazer da vida?” “Pra quê fazer algo da vida” ou pior: “Pra quê a vida?”
Sei que será difícil, mas tentarei não ser mórbido nem totalmente descrente nas minhas palavras a seguir.
Se tratarmos “vida” como definhamento cronológico, fica fácil dizer que o ser gerado, nascer, crescer, envelhecer e morrer não passa perda de tempo ou, amenizo, uma brincadeira de mal gosto.
Mas o fato é que de fato temos uma alma, e é quanto a sua vida que nos fazemos inúmeras perguntas em vão, e de forma doentia pode ser essa dúvida que nos mantém vivos. Ou não.
Se você não está entendendo muito do que estou falando, saiba que eu também não, mas sigamos em frente. Se criássemos um “Frankstein” teológico, algo que somasse as discordâncias entre religiões que manipuladas entrariam em acordo e nos dariam uma resposta “anestésica”, ficaríamos mais saciados, mas continuaríamos alienados.
Portanto, as pessoas que são capazes de buscar (em vão, claro) respostas para a existência, são as mais esfomeadas – e a fome, principalmente de respostas, enlouquece.
Mas imaginem que nosso corpo fosse capaz de suportar umas cinco vezes mais anos de vida que o que é normalmente suportado, todos surtariam. Não há como ser são por um longo espaço de tempo, e quanto mais velho se é, mais distantes as respostas ficam, mesmo as mais simples como “dois e dois são?” Tenho um dó dos vampiros dos clássicos. Bom, mas de nós, seres pensantes, poucos lembram e pouquíssimos têm piedade. Não que eu a queira, mas seria bom oferecer.
Mas, voltando ao assunto, o que faço de minha vida?

terça-feira, 1 de março de 2011

Rodrigo Fogaça Marucco

Das minhas batalhas entre orgulho e resignação, espero que momentos de paz não permitam que tome partido de lado algum. Conheço-me por inteiro, agora viverei-me por completo. Em tempo: com muita fé, primeiramente em mim.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Diário de um bipolar

Acordo, levanto e taco meu cadáver nas costas para andar por aí. Por mais que sejam discretos e paulatinos, percebo o chegar de meus limites. Saio a trabalhar com correntes amarradas nas canelas, arrasto-as por longas horas até chegar a tão querida hora de deitar de novo. Nunca só, a solidão é uma companheira muito fiel.
Amanheceu, dei “bom-dia” para os pardais que com suas sinfonias me acordaram, fiz o mesmo com o Sol. Peguei meus fones de ouvido, vesti meu tênis mais macio e sai pra correr numa espécie de louvor à vida. Alimentei meu corpo com carinho e respeito, banhei-me em água morna para relaxá-lo e ensaboei-me cantarolando a mesma música dos pardais matutinos.
Acordo, levanto e taco meu cadáver nas costas...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Eu me declaro culpado.

Culpo-me por muito do que faço, mas agradeço imensamente a Deus por ter feito.
Alguns sentimentos são intrínsecos à nossa natureza, esse é o caso da culpa. E com séculos de Cristianismo nos impondo restrições, dela não nos livraremos nunca.
Nossa alma é uma engrenagem de sentimentos, é incrível como uns necessitam de outros. Nosso egoísmo natural, aquele que nos mantém vivos (comer é um ato egoísta, por exemplo) poderia ser amplificado chegando à “psicopatia” caso não sentíssemos a nossa culpa original, a natural. Faço questão de frisar que falo de natureza; não de cultura e/ou costumes, debater valores morais é coisa de gente burra. Vivemos em sociedade, regras devem ser seguidas e blá, blá, blá; mas querer chegar à respostas sobre o que é certo ou errado é coisa de desocupados ou alienados. Me diga uma coisa: quantas vezes você não se deu mal tomando a decisão correta? Acho que agora você está começando a me entender.
Bom, digressão à parte, quero voltar àquela culpa de que falava no início do texto. É mais que óbvio que nossas experiências moldam o que nos envergonharemos de sentir, tratando-se de religião, por exemplo, o sexo é o pico da enfermidade moral. Não é preciso ser um “Nelson Rodrigues” para entender que naturalmente o sexo é baixo, vil e extremamente necessário. Essa conversa de sexo apenas para reprodução eu deixo para os criadores de ovinos. Sou muito a favor dos ensinamentos bíblicos, mas desde que sejam interpretados como metáforas que são. Assim eles visam o nosso bem estar corporal e espiritual; não nos restringir de prazeres. O prazer é outro sentimento ligado à culpa: a mesma culpa que se tem após o gozo é a que se tem após devorar um doce bem calórico. Acredito que esse tipo de culpa é anexa ao nosso ser original, independente de experiências externas.
De certa forma, a culpa é um anjo que nos acompanha o tempo todo. A culpa original, não a que parafusaram em nossas consciências.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Corra

Hoje, a querida e talentosa Renata Lopes perguntou-me num de nossos papos que já viraram frequentes no messenger se eu havia deixado a Música. Respondi que não.
Nesse mundo em que vivemos, o talento pode ser um Karma, uma chaga herdada não sei de onde ou mesmo um acidente como, às vezes acredito, o modo que deu-se a nossa origem. Devo dizer que estou especificamente falando sobre o talento artístico.
A arte como vocação intensa pode atrasar o que deveria ser feito em série, sem pensar. Estudar, por exemplo: quantos artistas abandonam os estudos ou pausam-nos por acreditar piamente em seu talento e, pior, nos louros que colheriam por conta do mesmo?
Nas raras vezes em que se é bem sucedido, passa-se a ter uma vida interessante e rica em idéias, mas não feliz, felicidade absoluta não existe, muito menos na alma de um artista, que é suprida por solidões e vazios corrosivos à qualquer pessoa “comum”.
Não sou contra a arte, sou contra o mundo, e o mundo, infelizmente, é muito maior que ela. Conheço homens de quarenta anos que vivem como zumbis por terem apostado todos os seus mais dinâmicos anos de vida em uma vida quase utópica, não saberia dizer em porcentagem o número de artistas que se realizam profissionalmente. Hoje, esses homens de quarenta (ou mais) não têm condições nem para o básico (“básico” de um artista é bem mais que o de praxe), têm a casa cheia de livros, mas não pagam a pensão de seus filhos há tempos; têm a cabeça cheia de idéias, mas não têm “rúpias” para pô-las em prática; têm um vasto conhecimento, mas tratados são feito “vagabundos”. Triste a vida de um artista que resolveu viver de sua arte. Hoje trabalho numa empresa de Escolta e Vigilância Armada, eu, que a única arma que empunhei a vida toda fora um piano. Uma miríade de livros, também. Frustrado? Nem um pouco!!!
Aliviado e tranqüilo por ter tido tempo de ter uma vida digna e dar o mesmo a meu filho.
É óbvio que nunca largarei as teclas e os sons maravilhosos que se formam quando essas são somadas às minha mãos, mas agora eu só toco por lazer ou por um dinheirinho a mais pra cerveja.
Conselho aos talentosos: mergulhem de cabeça nos estudos de sua arte, mas faça o mesmo com os estudos burocráticos que a vida medíocre exige.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Fenômeno

“Ele é milionário, vive na opulência e anda com belíssimas mulheres.”
Estou descrevendo a vida do fenomenal Ronaldo. Não por ser seu fã (e sou), mas por que quero falar sobre a crueldade da ingratidão e a vil efemeridade.
Apesar de tudo aquilo que de fato é verdade e foi dito na primeira frase desse texto, esse homem propôs-se a ir além de seus limites físicos e emocionais para viver o que mais gosta de fazer e o povo mais gosta de assistir, e assim o fez: mesmo depois de um longo histórico de lesões (graves, diga-se de passagem) e dores quase insuportáveis, ele (acho que no meio futebolístico deveria ser tratado como “Ele”) deu uma aula de humildade e resiliência, fazendo com que gente como eu, que não dá importância alguma a um jogo de bola (além do fato de ser um esporte), assistir emocionado à partidas inteiras. Sou fã incondicional do talento e da persistência não vã, e “Ele” sabia que vã não era.
O fato é que é da natureza de alguns imbecis o imediatismo e a mediocridade, e de imbecis forma-se a maior parte de “torcedores” organizados. Uma pessoa que mata por um motivo não pode torcer pelo mesmo. Esses não gostam de futebol, mas nem mesmo eles sabem disso. Ainda tive de assistir um repórter perguntando o porquê da falta de comprometimento do Ronaldo com a perda de peso. Risadas (irônicas). Ele respondeu como um cavalheiro cheio de razão: “Depois de oito cirurgias no meu corpo e dores muito fortes ainda tenho de ouvir gente como você falar de comprometimento.”
Não preciso escrever sobre o desprezo que tenho por esse jornalista.
Bom, mas vale dizer que a matéria final do “Globo Esporte” de hoje foi uma linda e justa homenagem a esse ídolo.
Queria entender como que pessoas que há pouquíssimo tempo atrás aplaudiam e choravam de emoção ao vê-lo brilhar em campo agora o crucificam e odeiam. Na verdade entendo: muita pobreza de alma, gente que se considera feliz e poderosa. A sua pobreza material não contrasta com sua pobreza espiritual, gerando assim uma falsa sensação de poder e felicidade.
Espero que esse ídolo saiba que nesse meio sempre existiu essa tal de ingratidão e a falta de memória, mas se ele ainda não souber, nós, os fãs do talento, o faremos lembrar.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Lixo Cultural

O mundo não pode acabar. Ele tem que acabar!
Não, não – não se trata de revolta, é apenas um pessimismo induzido pela alienação explícita na mídia, principalmente no Brasil, nessa época de Carnaval. Na minha última tarde de domingo, preparando-me para encarar algumas 15 horas de trabalho, eu estava estaticamente sentado em frente à televisão enquanto se passava aquele famoso “Domingão da Alienação”, apresentado por um cara nada alienado e que demonstra seu desprezo por temas fúteis, mas que, por ganhar muito dinheiro, está há um bom tempo no ar. Bom, não é novidade que a cada ano, nesse esquenta carnavalesco, aparecem músicas abomináveis executadas por cantores e/ou grupos bizarros, mas, confesso, dessa vez conseguiram superar minhas péssimas expectativas: “Reginho dos Teclados” foi demais, subestimei a falta de cultura da grande massa brasileira.
Trata-se de um “ser” horroroso cantando uma “música” sem melodia e sem graça (ele jura que é engraçada, divertida e dançante), e que é acompanhado por quatro placentas que devem ter sido criadas no lugar das crianças que devem ter sido jogadas fora.
Que coisa medonha... Quando o apresentador os entrevistou eu senti vergonha por eles, por mim, pelos deuses da nossa música, pelo meu país e por todo talento que o povo brasileiro desperdiça por falta de cultura.
Infelizmente, aqui no Brasil essas coisas são muito comuns, usamos a “alegria do povo brasileiro” como desculpa para a ignorância. É fácil explicar: o povo é pobre culturalmente, sendo assim não há contraste com a miséria interior, a miséria de alma.
Amo meu país, mas há coisas “sobrenaturais” (traduza como “bagunça”) que só mesmo aqui acontecem. Onde mais um goleiro faria 100 gols? Onde mais grande parte dos traficantes cheiram? Onde mais as prostitutas gozam?
Esse é meu país. Tem tudo, mas não tem nada. Um continente com potencial de primeiro mundo jogado às traças. Muito antes da “reforma agrária”, seria necessária (vital!) uma reforma educacional. Como um país de grande parte de professores burros irá crescer? Eu não deixaria meu filho nas mãos de um “mestre” que fosse fã do “Parangolé”. Bom, mas a maior parte é e eu não quero briga (mentira: quero, sim).
Acho que esse besteirol musical serve apenas para “fundinho” de porres providos de chifres e dores de corno em geral; aí faz-se uma merda grande que te deixará com péssimas lembranças e três acordes ressoando em sua cabeça.
Bom, se você pretende chutar o balde, vai aqui uma dica: Reginho!!!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Ter ou não ter...

Acho que uma matéria que deveria ser “obrigatória” numa grade escolar é administração de finanças pessoais, algo que ensinasse as crianças a lidarem com dinheiro. Não é inteligente não mostrar o valor que a “bufunfa” e a maneira como se administra têm em nossa vida prática. Desde cedo é preciso orientar os pequenos para que encarem e suportem essa selva capitalista em que vivemos. Acho muito bom um filho receber uma mesada, mas acho péssimo que os pais o socorram quando suas finanças entram em crise. É cedo que se aprende a se virar e, mais ainda, a trabalhar para resolver. Sei que é difícil não ceder aos olhares sedutores de um filho, mas é preciso ser austero. Na vida de uma criança, a mesada tem o mesmíssimo valor que o nosso suado salário, é preciso que os filhos saibam cuidar de suas economia o mais rápido possível. Quando digo que não devemos socorrer nossos amados gastadores não quero dizer que não possamos orientá-los, muito pelo contrário: devemos. O que não pode acontecer é dar mais do que já foi estipulado.
Acho muito importante presentear, mas é preciso que fique explícito que se trata de um “carinho” e que esse carinho é esporádico. É uma exceção. Podemos ensinar desde cedo um jeito de conseguir o que se quer (materialmente falando) com trabalho e/ou sacrifícios e restrições. E é muita hipocrisia dizer que queremos a felicidade de nossos filhos sem que importe o dinheiro. Muito da “felicidade” (traduza como “bons momentos”, felicidade não existe) é diretamente ligado a dinheiro: o nascer do Sol é gratuito, o brilho da Lua, também; mas bons carros, bons vinhos, boas viagens, boas escolas, bons planos médicos, muitas das belas mulheres e muitos outros itens custam caro, e bem caro! Portanto, assim como é importante ensinar o valores intrínsecos à alma com aulas de filosofia, psicologia, literatura, etc; é preciso ensinar valores práticos como controle de finanças.
Pense nisso: “Mais importa o “ser” do que o “ter”, mas, muitas vezes, para “ser” é preciso “ter”.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Desejo de alma e corpo

Enganam-se as mulheres que creem que o homem está sempre interessado em sexo. Pelo menos os pensantes não circundam apenas os interesses imigrados de estímulos hormonais. O interesse é a palavra chave numa relação homem-mulher (ou o misto de gêneros que lhe for de interesse), e, ao contrário do que querem alguns manipuladores (religiosos ou não), não devemos enxergar o interesse como “pecado”, trata-se de ferramenta básica de sobrevivência. Sempre estamos interessados em algo, às vezes nosso interesse é o bem estar do outro (começa entender do que falo?), portanto, por mais contrário que pareça, o interesse pode ser altruísta.
Bom, mas não quero aqui dar uma versão “desaureliana” de interesse, quero falar dos outros interesses que nós homens temos.
Muito nos interessa uma boa companhia, um bom papo, uma simples presença, e, pode acreditar, muitas vezes desprezamos o sexo. Não falo de ereção nem da falta de, mas falo de sentimentos, de idéias de companheirismo. Eu, bem particularmente, estou farto de sexo casual, quero paixão, quero tapas na cara.
É lógico que devemos excluir dessa teoria os “adolescentes”, que estão sempre dispostos a sexo desenfreado e utópico (eles imaginam muito mais do que vão ter em qualidade e quantidade), o que é biologicamente natural e fazem com que os banhos demorem mais um pouco.
Cá entre nós, não é muito melhor o sexo apaixonado, com beijos intensos na boca (e em muitos outros pontos), com pegadas possessivas e com certeza da presença da pessoa nos dias seguintes?
Se você não é um analfabeto de alma, sei que a resposta é positiva. Agora, se você é um imbecil, saiba que quero muito te incomodar.
Acredito que muitas das traições são frutos dessa cultura quantitativa sexual do homem, às vezes ele não percebe que é feliz (ou tem vergonha de ser) e pula a cerca sem vontade alguma (ou uma vontade que seria possível sentar e esperar passar) acabando com uma família. A traição é muito perigosa: de um bom sexo pode nascer uma paixão avassaladora, suja e que pode acabar com uma vida. O sexo, como qualquer prazer intenso e momentâneo, pode nos cegar e fazer com que tomemos atitudes instintivas, e pior: diretamente ligadas aos nossos genitais. Não sou hipócrita de condenar o “traidor”, à nós são intrínsecas miríades de sentimentos, além de que existem mulheres que pedem (assim como homens) por um belo par de berrantes. Não vou entrar naquela velha conversa de que “é melhor separar”, concordo, mas desde que seja “contextualizada”. Vou deixar essa discussão para os padres e os hippies.
Apesar de ter feito uma pequena digressão eu quero apenas deixar claro que não nos interessa vossas presenças apenas na cama. Queremos vocês por inteiro: com suas manias, chatices, neuras... Mas, também, com suas sensibilidade, carinho, afeto e, muito importante, com esse corpo delicioso.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sangue

Acredito que afeto se conquiste com o convívio, algo do tipo “pai ou mãe é quem cria”, mas admito que laços sanguíneos são muito fortes.
Tenho sobrinhos que amo intensamente e me preocupam tanto quanto meu filho, apesar de pouco convívio presencial. A vida moderna nos aproxima virtualmente, mas pessoalmente nos distância cada vez mais. Meus sobrinhos não vivem o que eu e meus primos vivemos, eles não “crescem perto”, como dizem os mais velhos. Tive uma relação de irmãos com todos meus primos, juntávamos nós todos na casa de uma das tias ou ficávamos todos na “casa da vó”, isso nos mantém ligados até hoje, mesmo cada um já tendo sua própria vida e seus próprios ofícios. Mas é intrigante quando nos juntamos todos mais nossos filhos em comemorações de aniversários, nascimentos, viradas de ano, Natal, etc. Dá-me a impressão de que os pequenos moram juntos, o “fogo no rabo” impera e as panelinhas se formam em segundos. A timidez dura muito pouco (diferentemente de quando encontram crianças não agnadas) e a proteção mútua é perceptível. Não imaginem que eu vá explicar como isso ocorre, eu não faço a menor idéia. Só sei que acontece. Mas esses misteriosos laços trazem o infortúnio das perdas, nas horas tristes, todos sofrem. Ver um ente amado sofrer nos causa muita dor, assim como perder um deles. Em três dias vivemos a tristeza de perder o mais novo da geração dos “primos que cresceram juntos” e a alegria de receber o mais novo dessa nova geração de primos. E agora convivemos com esses dois sentimentos na mesma intensidade. Pena pro pequeno Caio a certeza de não conhecer o Leonardo. Quero lembrar que esse primo que nos deixou era “idolatrado” pelos pequenos.
Mas aqui quero falar de sangue, essa minha certeza sobre a força desses laços vai contra todo ceticismo que venho desenvolvendo às custas de muitas leituras filosóficas e outras nem tanto. Mas no fundo chego a coerência de perceber que estou certo: não somos nada e de nada sabemos.
Alguns filósofos afirmam que nos prendemos a esse amor de sangue (filhos, irmãos, primos) por falta de opção, que somos frustrados nas relações conjugais e por isso nos agarramos ao que nunca vai mudar. Eu concordo e discordo (é filosofia, eu posso fazer isso) em gênero, número e grau. Mesmo sendo um cético não posso fingir que não enxergo “forças” (acho brega dizer “forças”, “energias”, mas como não fazê-lo?) maiores do que tudo que compreendo, assim estarei sendo hipócrita e batendo de frente com tudo o que acredito. Complicado, não? É, mas não é; tem que ser, mas não pode ser...
Que bom que estou perdidinho.