sexta-feira, 15 de abril de 2011

Um Artista

Você sabe qual a necessidade básica de um artista? Não, não falo das fisiológicas.
Você vai responder, por exemplo, o “aplauso” - e eu digo que não: o prazer de um aplauso é muito parecido (se não idêntico) ao do gozo sexual (bom, mas breve). Você pode arriscar, também, a responder que é o “reconhecimento” - mais uma vez digo que não. Sem mais te deixar curioso, eu repondo que o que supre o artista é a solidão. Mas preciso esclarecer uma coisa: tocar um instrumento, pintar um quadro, encenar peças... Nada disso quer dizer que trata-se de um artista; pra um desses, esses talentos são algo parecido com uma “maldição”. O niilismo é parte fundamental da formação da “alma” de um desses condenados. Se você conhece uma pessoa descrente de quase tudo, inteligente, solitária (geralmente considera que a sociedade não é compatível a ela) e que, ainda por cima, toca um instrumento ou faz alguma bobagem talentosa – cuidado!!! Pode estar perto de um artista.
A sensibilidade extremamente acentuada faz deles “fracos” perante o mundo. A força vem da prática; não do pensamento. Se você é um imbecil que consegue fazer coisas repetidas exaustivamente, parabéns! É bem provável que tenhas sucesso na vida. Agora se a sua natureza é mais “filosófica”, tenho pena de você. Podes amargar uma solidão crônica, definhadora e que, junto a velhice, te deixa mais feio e com olheiras. Não estou me contradizendo, senhor leitor, trata-se apenas do fato de que “vez ou outra” uma pessoa “normal” (otimistas, credo) quer ficar só; com um artista é diferente: “vez ou outra” ele quer distância da solidão. Mas passa rápido, a vida prática faz-nos perceber muito rápido que precisamos ficar sós. Essa ira discretamente contida em minhas palavras também é coisa de gente que se vê perdida num deserto escuro e, ao invés de areia, coberto de cimento. Adoro a frase “tem alguma coisa errada”, risadas. Não está nada errado. É só o “sentido da vida”, esse que fez muitos enlouquecerem procurando e não encontrando – se bem que depois de louco deve haver algum sentido na vida. Mas, ainda, não enlouqueci. Estou aqui vivendo minha amada solidão, mas confesso que me deu um surto (breve) de querer uma boa companhia. Um bom vinho, talvez.

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