sábado, 19 de setembro de 2015

Diga

Não sabemos até onde chegaremos, mas sabemos de onde devemos sair.
Podemos?

Grama

Ninguém ganha peso radicalmente, e não deve-se ser radical para perdê-lo; do contrário, o mais provável é um peremptório fracasso. Só quero usar o que acabo de dizer para fazer uma analogia para com a satisfação existencial: dificilmente conseguiremos com um passo gigantesco alcançar uma meta, o tropeço é quase iminente. Grandes mudanças são provindas de sutis atitudes e delicadas podas: quando se frea bruscamente, pode-se capotar. Parece bobagem, mas num pensamento positivo, ou mesmo num sincero "bom dia", pode estar a chave ignitiva da transformação. Devagar é mais seguro.

Não falei?

Tendemos a enxergar e "resolver" problemas de terceiros. 
O segundo verbo foi aspado por, nesse contexto, não conter nenhum apoio para a resolução, trata-se apenas de "meter o nariz onde não foi chamado (leia-se 'onde não vai ajudar')". 
É tão mais fácil opinar (com certa maldade, boas intenções são fartas disso) acerca de problemas alheios. 
Se tivéssemos, todos, essas "visão" (ria) e disposição para com os próprios problemas, existir seria tranquilo. 
Autoconhecimento é mais chique (interprete como bem lhe convier) que "conhecer".
E muito mais compassivo.

Sapiens

Bom querermos atravessar a rua e um motorista educadamente ceder passagem; bom receber e devolver um sincero bom dia a alguém que jamais vimos e provavelmente jamais voltaremos a encontrar; bom perceber o carinho que desconhecidos dedicam a animais; bom ver uma mãe repreendendo carinhosamente, isso é amar, o seu rebento.
Bom ser capaz de notar milagres triviais e não mergulhar na descrença absoluta acerca dos nossos semelhantes.
Bom usufruir um prisma humanamente sagrado.

Sutural

As pessoas, todas as adultas, têm remendadas suas almas - cicatrizes assimétricas que nos curvam em corcunda existencial; partindo dessa premissa, podemos notar o incomensurável valor da gentileza, de receptividade; ou de sua ausência. 
Pode ser que o carinho não seja capaz de mudar uma vida, mas é, sim, um afago anestesiante - e fundamental. 
Um sorriso receptivo, um olhar aconchegante, um beijinho entre os mais íntimos pode salvar um dia - e um dia é uma vida nova dentro da mesma que há anos experienciamos. 
Por compaixão seja educado, demonstre alegria que faz do encontro sua nascente, não deixe um sofredor, somos todos, sentir-se só e desnecessário - geremos Deus com gestos simples, olhares em ninho.

Grrrrrrrr

Disposição a ser bom não significa permissividade, licença para que pisem, mesmo que de leve, em nossos calos. 
Mesmo um anjo deve carregar um demônio em si para autodefender-se de seres que tentam açoite. 
Bom-senso e gentileza não obrigatoriamente geram bom-senso e gentileza. 
Se não por "tato", por por resposta à força idiossincrática. 
Ninguém nos maltrata sem nossa permissão.

Bis

Um reencontro, virtual, entre mim e vários seres que costuram o meu passado feliz e pueril - no primeiro grupo social deflagrado em minha vida depois da família. Reparo na leveza dos semblantes nas fotos das fotografias que carinhosa e saudosamente foram compartilhadas; vi-me em terceira pessoa: olhar para nossa ontologia faz-nos notar que éramos, não somos. Ou melhor: somos metafisicamente quem fomos, lá atrás está a nossa essência. A argila que a vida não moldou com sua assimetria costumeira; a pureza no sentido literário..., a vida é uma decantação ao contrário.
Fico muito feliz em ver que já fui puro, inocente... Isso está tão lá atrás em minhas memórias que só os reencontros são capazes de acessá-las.
Sempre de um encontro nasce uma pessoa, a terceira; e um reencontro é uma festinha entre nós seis.
E seis vezes o número de amigos mnemonicamente encontrados é o tamanho da saudade.

sábado, 8 de agosto de 2015

Cotação

A paz é rara e cara. Neste mundo de relações tensas, urgente mesmo é a segura tranquilidade; onde os pares finalizem os esboços de quem amam. Pincelar à deriva é manchar o incompleto.
Cada palavra, cada gesto deve ter os mesmos graus de "feeling" e raciocínio. Empatia é algo treinado.

Paz

O que chamam "pisar em ovos" é uma forma dolorida de viver uma relação iminentemente fracassada.
Ceder ou ser gentil por medo é barganhar carinho, atitude vil - suicídio idiossincrático.
O trivial deve ser apaixonado, o ordinário deve ser gentil; não pacato, covarde.
Amo amiudar gentilezas a quem quero bem, acariciar é espelho: reflete em nós.
Já postei que a paz é rara e cara, mas é um ótimo negócio desde que possamos pagar sem nos afundar em dívidas anímicas.
Se seu amor e sua paz forem, respetivamente, como água e óleo - o primeiro não passa de uma doença camuflada.
Amar em paz deve ser pleonasmo.

domingo, 19 de abril de 2015

180

Para chegar onde nunca chegamos é preciso fazer o que nunca fizemos e deixar de insistir em muito do que sempre foi feito.Sem mudança, conhecimento não passa de informação.E o curioso é que essa mudança nos leva de volta ao ser que sempre fomos, sem os excessos que a própria vida impõe.Avançar é voltar às nossas velhas e ínsitas virtudes.

Vísceras

‎"Estranhamente acomodo-me no limbo de tua ausência; o inferno gelado da distância refrigera-me as assimétricas cicatrizes que o inverno escaldante de sua presença tatuou em minh'alma. Mais prazerosa é a solidão quando capazes somos de topar e reconhecer a nós mesmos. Qualquer vida, desde que seja a minha, é melhor do que a sua, do que a nossa... Não te digo que não há sua falta, mas que dela não abro mão. Enfim, só".

Interlúdio

Se queres meu amor, a verdade te digo: não desejo-te alegrias, salvo quando junto a mim. A presença do nós, esse ser que faz apossarmo-nos um do outro, é fundamental para a metafísica poética que chamamos de nosso amor – pelo menos a certeza de mim em teus obsessivos e serenos devaneios triviais, como alguns chamam de “pensamento”, é alimento para a enrugada alma concisa  pelas cicatrizes advindas da incerteza. A monotonia da paz solitária castiga tanto quanto os mais torturantes tormentos causados pelo natural ódio que, vez ou outra, irrompe os momentos dos enamorados. Natural associar-te a cotidianas situações e objetos – quando se ama, em tudo, sadicamente, damos um jeito de enxergar quem nos falta. Nada me é tão satisfatório quanto digladiar com você por o que mais me importa: ti. Vem...

Felizes Os Não Convidados

Parecia simples: sorrir ou chorar, aborrecer-se ou se alegrar. Mas elos hão de nascer ou, antes disso, perecer. Ou depois. Que seu ventre seja a chegada, da morte partiremos; viver é o que há entre o amor e o horror; entre a terra e a flor. A face enrugada por um sorriso é a mesma macia e lisa por um medo; do medo à loucura, valiosa, pura... Bons momentos são dissidentes que driblaram a guarda existencial, napoleões esquizofrênicos que sadicamente nos fazem vislumbrar uma utópica felicidade, a mesma santificada pelos tolos. Felizes por assim serem, e só por isso. E felizes. Há sabedoria em conhecer a onipresente infelicidade? É sábio o peixe que sobe a cachoeira? Tolos somos nós, que incapazes somos de sê-lo.

Incompatibilidade

És o mais belo esboço de um amor, nada mais. O Quase é onipresente em nossos encontros; e a Paz, nos desencontros. Irônico, o Acaso debocha, fecunda a saudade quando próximos e o contentamento só de longe. O vil milagre de não seres quem és torna-te uma mentira - coalha qualquer esperança que flua. Não deixes de não ser você, assim prefiro-te distante.

Desalgeme-se

Gentilezas amiudadas perdem o valor ou tornam-se obrigações. 
Faça "tudo" para uma pessoa e o passo seguinte é você se tornar cabal e definitivamente, a ela, incapaz. 
Ser atencioso e carinhoso requer cuidado, um pequeno deslize (sutil excesso) endossa o direito de sequestrarem nossa subjetividade.

Antes...

Respeito medroso não é amor. 
Quem permite ser subjugado não é um par, é uma vítima; relação que não amplia os horizontes é vício, é patologia. 
O surpreendente é que é a vítima quem endossa o vitimador: ele não existiria sem ela; e essa condição de "sequestrado no afeto" só pode ser dissolvida pelo próprio refém. 
Se ao aproximar-se de alguém você se distancia de seus significados é melhor ver a relação por outro prisma e, se impossível "consertá-la", dela desistir. 
Em várias feitas, há muita sabedoria na desistência.

sábado, 4 de abril de 2015

Sonho [de padaria]

Quando o sonho e o nada mal se distinguem, pouco resta a fazer a mais que torcer... Muito. Vislumbrar pode ser tortura ou esperança. Ou os dois. 
Querer, desejar, rezar... A oportunidade da felicidade reconhecedora, merecida, ao mesmo patamar do justo, do equilibrado, do sonho trivial, do desejo corporal e intelectual... E a reciprocidade em altura, em merecimento. Pessoas especiais devem se juntar, ou vão restar o torto e banal como sobas.

Nada

Sem cultura, sem inteligência, sem equidade, sem humor, sem apoio; ou seja: sem uma compleição válida, que gere genuíno desejo, não há companhia: pode até haver outro ser, mas não outro par. 
O "nós" jamais nascerá sem qualidades específicas, as que geram a simbiose Indispensável para um relacionamento; simbiose gentil: não necessita de presença constante, de amputações idiossincráticas - de abandono. Faz de um sorriso alimento, a realização do par é nutrição anímica. 
Beleza é fundamental? Sei apenas que sozinha ela pouco é capaz: é como se escalássemos alguém para terceirizar nossos fracassos, nossa mediocridade... E nossa masturbação.

Que me devolveu a mim

Significados... O mesmo poder que eles têm de nos aproximar de nosso ser primário, o que somos antes e independentemente das marcas que viver nos implica, suas ausências têm de nos afastar de nós mesmos.
Quanto menos significado, mais mediocridade, mais alienação, mais perda de tempo - de vida. 
Nada é tão imoral quanto agirmos contra ou distante de quem somos. 
E quem somos não é o que somos.