sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Corra

Hoje, a querida e talentosa Renata Lopes perguntou-me num de nossos papos que já viraram frequentes no messenger se eu havia deixado a Música. Respondi que não.
Nesse mundo em que vivemos, o talento pode ser um Karma, uma chaga herdada não sei de onde ou mesmo um acidente como, às vezes acredito, o modo que deu-se a nossa origem. Devo dizer que estou especificamente falando sobre o talento artístico.
A arte como vocação intensa pode atrasar o que deveria ser feito em série, sem pensar. Estudar, por exemplo: quantos artistas abandonam os estudos ou pausam-nos por acreditar piamente em seu talento e, pior, nos louros que colheriam por conta do mesmo?
Nas raras vezes em que se é bem sucedido, passa-se a ter uma vida interessante e rica em idéias, mas não feliz, felicidade absoluta não existe, muito menos na alma de um artista, que é suprida por solidões e vazios corrosivos à qualquer pessoa “comum”.
Não sou contra a arte, sou contra o mundo, e o mundo, infelizmente, é muito maior que ela. Conheço homens de quarenta anos que vivem como zumbis por terem apostado todos os seus mais dinâmicos anos de vida em uma vida quase utópica, não saberia dizer em porcentagem o número de artistas que se realizam profissionalmente. Hoje, esses homens de quarenta (ou mais) não têm condições nem para o básico (“básico” de um artista é bem mais que o de praxe), têm a casa cheia de livros, mas não pagam a pensão de seus filhos há tempos; têm a cabeça cheia de idéias, mas não têm “rúpias” para pô-las em prática; têm um vasto conhecimento, mas tratados são feito “vagabundos”. Triste a vida de um artista que resolveu viver de sua arte. Hoje trabalho numa empresa de Escolta e Vigilância Armada, eu, que a única arma que empunhei a vida toda fora um piano. Uma miríade de livros, também. Frustrado? Nem um pouco!!!
Aliviado e tranqüilo por ter tido tempo de ter uma vida digna e dar o mesmo a meu filho.
É óbvio que nunca largarei as teclas e os sons maravilhosos que se formam quando essas são somadas às minha mãos, mas agora eu só toco por lazer ou por um dinheirinho a mais pra cerveja.
Conselho aos talentosos: mergulhem de cabeça nos estudos de sua arte, mas faça o mesmo com os estudos burocráticos que a vida medíocre exige.

Um comentário:

  1. Haverá um ano em que haverá um mês, em que haverá uma semana em que haverá um dia em que haverá uma hora em que haverá um minuto em que haverá um segundo e dentro do segundo haverá o não-tempo sagrado da morte transfigurada.
    Clarice Lispector

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