quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sangue

Acredito que afeto se conquiste com o convívio, algo do tipo “pai ou mãe é quem cria”, mas admito que laços sanguíneos são muito fortes.
Tenho sobrinhos que amo intensamente e me preocupam tanto quanto meu filho, apesar de pouco convívio presencial. A vida moderna nos aproxima virtualmente, mas pessoalmente nos distância cada vez mais. Meus sobrinhos não vivem o que eu e meus primos vivemos, eles não “crescem perto”, como dizem os mais velhos. Tive uma relação de irmãos com todos meus primos, juntávamos nós todos na casa de uma das tias ou ficávamos todos na “casa da vó”, isso nos mantém ligados até hoje, mesmo cada um já tendo sua própria vida e seus próprios ofícios. Mas é intrigante quando nos juntamos todos mais nossos filhos em comemorações de aniversários, nascimentos, viradas de ano, Natal, etc. Dá-me a impressão de que os pequenos moram juntos, o “fogo no rabo” impera e as panelinhas se formam em segundos. A timidez dura muito pouco (diferentemente de quando encontram crianças não agnadas) e a proteção mútua é perceptível. Não imaginem que eu vá explicar como isso ocorre, eu não faço a menor idéia. Só sei que acontece. Mas esses misteriosos laços trazem o infortúnio das perdas, nas horas tristes, todos sofrem. Ver um ente amado sofrer nos causa muita dor, assim como perder um deles. Em três dias vivemos a tristeza de perder o mais novo da geração dos “primos que cresceram juntos” e a alegria de receber o mais novo dessa nova geração de primos. E agora convivemos com esses dois sentimentos na mesma intensidade. Pena pro pequeno Caio a certeza de não conhecer o Leonardo. Quero lembrar que esse primo que nos deixou era “idolatrado” pelos pequenos.
Mas aqui quero falar de sangue, essa minha certeza sobre a força desses laços vai contra todo ceticismo que venho desenvolvendo às custas de muitas leituras filosóficas e outras nem tanto. Mas no fundo chego a coerência de perceber que estou certo: não somos nada e de nada sabemos.
Alguns filósofos afirmam que nos prendemos a esse amor de sangue (filhos, irmãos, primos) por falta de opção, que somos frustrados nas relações conjugais e por isso nos agarramos ao que nunca vai mudar. Eu concordo e discordo (é filosofia, eu posso fazer isso) em gênero, número e grau. Mesmo sendo um cético não posso fingir que não enxergo “forças” (acho brega dizer “forças”, “energias”, mas como não fazê-lo?) maiores do que tudo que compreendo, assim estarei sendo hipócrita e batendo de frente com tudo o que acredito. Complicado, não? É, mas não é; tem que ser, mas não pode ser...
Que bom que estou perdidinho.

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