quarta-feira, 20 de julho de 2011

Bares, bailes e eruditos.


Com apoio de Schopenhauer, que desconsiderava a erudição como obrigatória para um bom conhecimento, dissertarei sobre algo que, sem modéstia alguma, entendo. E muito! A música.
Não posso ser hipócrita e dizer que não sou, de alguma forma, erudito; eu usufruí, e muito, dos conhecidos métodos de divisão, solfejo, teorias, técnicas e demais, academicamente, obrigatoriedades, mas, paralelo a isso, eu vivi a música da maneira mais intensa possível: dividindo-a, acompanhada de minha alma, com o público, ou seja: tocando.
Conheço músicos que, em rapidíssimas batidas por minuto, em semifusas, executam, com o virtuosismo de um bailarino russo, uma dificílima peça, porém não arrepiam um homem nu no Alasca. Mas, apesar da improbabilidade preconceituosa que alguns “conhecedores” tecem, já ouvi pessoas simples tocando “peças” pobres, toscas, arrepiarem até pessoas críticas ao extremo como eu. Preciso elucidar que não estou corroborando com a produção de músicas ruins, como é farta aqui em nosso país, apenas estou focando o talento de pessoas que emocionam até mesmo sem recursos. E, quanto à musica clássica, eu amo. Meu filho carrega o nome de “Johan” em homenagem a “Johann Sebastian Bach”, que considero o início e o fim de toda a música. Acho que não preciso dizer que nada tenho contra peças complexas e belas, não?
E, corroborando com minha defesa, é lógico que uma bela peça executada por um talentoso músico emociona muito mais que o exemplo que dei alguns parágrafos acima, quando falei de músicas pobres.
Por motivos particulares, carrego desde minha adolescência uma relação de amor e ódio (que hoje, no máximo da minha maturidade aplicada, considero sinônimos) com a música, mas é fato que sem a música nem sofrer direito é possível.
Digressão à parte, a erudição obrigatória é inócua e tola. Ela é um caminho, não um destino.
Alguns dos maiores nomes da música extra universidade, como Hermeto Pascoal, o gênio dos sons, não conseguem tocar uma música semelhantemente em duas apresentações. A criação é uma constante. E alguns dos maiores nomes do Jazz, como Oscar Peterson, que tocava o repertório clássico de “trás para frente”, nunca deixaram de criar, porém respeitando algumas regras, o que fazia se seu som algo único, ímpar. Eruditamente ou não, creio com muito afinco que a emoção vem da criação. Não entenda “criação” como improviso, necessariamente, mas leia como “Creare” - do latim – que significa fazer, produzir. Trocando em miúdos: é preciso produzir sensações. E, querido colega, espero que você não leve anos de estudo pra perceber que isso só se faz inconscientemente.
Quando digo que não é preciso improvisar, quero dizer que você pode tocar uma peça clássica exatamente como escrita na partitura de maneira única e criadora de sensações jamais sentidas.
Tecnicamente, a dinâmica é a matéria da música que mais causa boas sensações, que fazem seu coração bater em quiálteras. Mas aplique-a de maneira inconsciente, vai se dar melhor.
Um conselho (para os já músicos) que os eruditos vão detestar: leia apenas as notas numa partitura.
Existem várias receitas para se construir um bom músico, mas a melhor é ouvir e tocar. Ouvir boas músicas, bons músicos e, principalmente, os mais velhos, como eu.

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