segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Agon


Chovia muito. Eu e Nádia acabávamos de discutir, decidi caminhar...
Minha capa me protegia da chuva, mas não da agonia. Após um hermético encharque, sequei as mãos num lenço, que, por higiene ou algum transtorno, tinha o hábito de carregar dentro de um saco plástico, e saquei meu telefone que, por motivos óbvios, estava em outro.
Liguei para Eugênio, amigo de poucas palavras, mas de muitas letras; disse-lhe que queria me separar e, também, queria sua companhia numa viagem pela América do Sul.
- Não quero.
- Mas por quê?
- Gosto de minha cidade e uma viagem dessas é muito cara.
- E se eu pagar todas as despesas?
- Não.
- Por quê?
- Por que será caro e inócuo para você.
- Como assim???
- Marcos, você pode sair de sua cidade, mas não de você mesmo.
Lembrei-me porque tinha ligado logo pra ele...
Achei que a distância seria o antídoto para toda dúvida que carregava, mas Eugênio logo me persuadiu passivamente. Era um bom amigo. Bom amigo é aquele que, em feitas sérias, fala pouco.
Com a consciência de que eu não evitaria conflitos e sofrimentos, que vivê-los era iminente, sentei-me à guia e fiquei namorando o rio que passava ao rodapé.
Às vezes é pueril procurar o “lado bom” de uma situação ruim, mas não foi assim dessa vez...
Cheguei à conclusão de que o maior instrumento para o crescimento não é o amor, é a agonia.
Conflitos nos fazem decidir; certezas nos paralisam. Perguntas nos movem; respostas, simplesmente, não existem. E fiquei enaltecido quando percebi que o presente é o Deus do cronos, que em um passo eu já tinha vivido passado, presente e futuro, e, inevitavelmente, voltado ao presente.
Sutil torna-se a agonia quando deixamos de imaginar o que será. E o que é, ninguém sabe.
Mais uma vez o acaso se provou onipotente e onipresente.
Voltei para casa.

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