terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Tédio

Ele foi. Roberto era avesso a foguetórios e abraços falsos, amava o que chamava de família desde que a distância. A chuva que tanto pediu não veio, o céu enluarado corroborava a afetação que preferia evitar; precisava... Mas ele foi. O porco de olhos verdes assado sobre a mesa manteve um olhar alegre tão improvável quanto o carinho distribuído pelos festejantes - a maçã grosseiramente enfiada na boca nada tinha de pecado, muito menos de original. Havia mais de uma hora para as felicitações e elas já causavam comichões em suas tripas - correr era uma hipótese mais provável a cada minuto. Mas ele foi e ficou. A cerveja embriagava bem menos que o de costume, menos até do que as patéticas e engorduradas rabanadas. E chegou a meia noite, trouxe com ela corpos suados compulsivos por abraços e palavras inócuas - um "vai tomar no cu" brotara em sua testa, mas com jeitinho o disfarçara. De que adianta um ano acabar se outro começará? Começou. Será que ele vai?

Nenhum comentário:

Postar um comentário