quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Matéria Prima

Acabo de conversar com meu filho de três anos ao telefone, lembrei-me do grande filósofo e padre Fábio de Melo relatando uma experiência ocorrida em sua infância.
Ele contou, num bate papo gostoso com seu amigo Gabriel Chalita, que desde muito cedo ele adora cantar (cá entre nós, ele canta muito mal – mas algumas pessoas ilustres podem cantar mal e agradar até a músicos profissionais, como esse que vos escreve), e, certa feita, passara uma noite inteira ensaiando para uma apresentação que faria em sua escola. Bom, o fato ocorrido foi que com os atrasos de praxe em qualquer evento escolar ele acabou não se apresentando, frustrando-se e só nos dias de hoje, na idade adulta, percebe a importância que isso teve em sua vida, ou seja: ele faz questão de que prestemos atenção e levemos a sério os sentimentos dos menores, que, apesar de parecer o contrário, nem sempre são lúdicos. Comparo uma decepção infantil com uma dor de amor, de separação. Para quem sofre, essa é a maior dor do mundo, e com razão, carregamos um mundo dentro de nós a que chamamos de subjetividade, e pra esse ser o mundo está escuro, mudo, sem cheiro. Respeitemos a dor alheia. Atenção (não demagoga, mas real) é requisito básico na formação e educação de uma criança. Não se engane, elas tem seus sentimentos e eles são muito sérios, assim como tem suas maldades e são sérias, também. Uma criança já é um ser, com um universo de pensamentos limitado, mas de sentimentos tão grande ou maior que o nosso.
Você presta atenção à atenção que desprende a seu filho? Vou dar um exemplo:
Crianças adoram trabalhar e sentirem-se úteis, na cozinha e na faxina “molhada” principalmente. Pense comigo: você está na cozinha, a criança está doida pra te ajudar nos preparativos do almoço (é verdade que atrapalham bastante, mas educar não é fácil) e você no mesmo refrão de sempre diz “vá ver desenho na sala”. Ela vai triste e sentindo-se fracassada para sua sessão animada. Passam-se uns 12 anos e você pede pra essa mesma criança te ajudar com a louça, ela diz que está ocupada vendo desenhos. Você, com um novo refrão, diz “não presta pra nada essa peste”. É justo?
Esse é um entre bilhões de exemplos com quais podemos ilustrar nossas falhas pedagógicas, não se culpe, por isso existem os profissionais pra nos auxiliarem. Recomendo Içami Tiba. Na filosofia estuda-se a subjetividade primária, essa de quando temos poucas experiências, chamada de “ser original”. Fatores externos o transformarão no ser cotidiano, no ser contemporâneo. A família deve permitir bons fatores externos pra que se molde um ser belo, uma alma limpa e sem cicatrizes. Antes de recomendar livros, programas de TV ou qualquer coisa do tipo, peço apenas atenção (e respeito mútuo) aos sentimentos de qualquer ser, por mais inocente que pareça. Agora, gostaria de recomendar o livro “Quem ama educa”, do grande educador Içami Tiba. Leiam o livro, mas interpretem a vida.

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